quarta-feira, 30 de junho de 2010

Deodato, aquele ser único.







Ele esteve na minha casa.Foi pelas vésperas do Sto.António.
O Alberto foi com ele, e ao que sei deu um grande abraço á minha mãe e recebeu imensas coisas.
Ele tem agora o relógio do meu pai, o relógio que o acompanhou anos e anos, está agora no pulso do Deodato.E anda todo contente.Fiquei muito feliz quando soube.Não só o relógio mas outras coisas, das quais a minha mãe se vai desfazendo lentamente.O meu pai ficaria muito contente, como aliás deve estar, em saber que o Deodato está feliz com as suas coisas.
Eles eram amigos.Cada vez que o meu pai o via entrar pelo hospital dentro,a dizer "PAI DA ITA" desmanchava-se em sorrisos e por momentos esquecia as dores e focava-se em conversar com ele.Ambos perguntavam um pelo outro quando me viam.Faziam bem um ao outro e a mim também.Como é possivel esquecer a beleza de uma amizade assim, ou abafá-la?Não posso.
Mesmo quando o meu pai esteve no Telhal para o seu velório, o Deodato foi dos primeiros a esperar por mim e a querer estar ali.
Todos os utentes são especiais para mim, mas quem de nós não tem preferências?Quando faço campos de férias, ou fins de semana hospitaleiros os jovens pedem-nos sempre para ir para esta ou para aquela unidade.E se não so colocamos onde querem, fazem birras como crianças.E porquê?Porque têm as suas preferências e não os devemos condenar por isso, ou julgar.Somos humanos.Temos afinidades.
Para mim o Deodato é um ser único, como existem poucos, um ser que entrou na minha vida e me mostrou uma doce e bela face de Deus, um ser que me deu mais força que ninguém, com um simples olhar ou abraço.E continua a dar.Tenho imensas saudades dele e do Telhal também.
Saber que visitou a minha mãe, deixa-me muito feliz e sei que ela também ficou.Hoje vou ligar para falar com ele e ouvi-lo dizer ITA!


Que ele saiba ver as horas correr, pelo relógio que muitas vezes parecia parado aos olhos do meu pai, quando me dizia, "o tempo nunca mais passa...parece que tudo parou". 
É assim que nos sentimos quando esperamos a morte.

O tempo, sempre o tempo.

1 comentário:

erute disse...

Cada casa de saúde tem o seu doente caractiristico :)!!!!

Recordo cada um...

Beijo