quarta-feira, 3 de março de 2010

Ecos




Aos poucos vou recebendo reacções dos que me são mais próximos, acerca da minha partida.Eu sei que passou pouco tempo sobre a morte do meu pai e que talvez fosse bom ficar mais algum tempo por aqui.Mas ao mesmo tempo, penso, a fazer o quê?A pensar mais e mais no que se viveu?
Já sei algumas coisas sobre as condições do projecto,Sei que irei no dia 7 de Abril e que no fim de semana de 27 a 29 tenho uma formação, na pousada da Juventude de Almada, com outros jovens Portugueses que vão partir, pelo SVE, para outros países, outros projectos.
A intenção é que nos possamos conhecer, partilhar experiências e tirar dúvidas.
Com tudo isto, posso dizer que a minha mãe reagiu muito bem, como se já soubesse o inadiável, e curiosamente, começou a lavar e a passar a minha roupa de verão e a arranjar (adaptando) os pijamas do meu pai, para que possam ficar para mim.
A família no geral, fica contente e sabe que essa é a minha natureza.
Contudo algumas reacções transmitiram-me que Bucareste era uma cidade muito feia e pobre e que eu devia ter muito cuidado por causa dos ciganos romenos.
Este é o tipo de coisas que eu mais preciso ouvir agora de facto ou que nunca se diz?
Mas, se Bucareste fosse um destino de férias ou turismo para mim, eu não escolhia ficar 6 meses a trabalhar como voluntária, e se fosse uma cidade rica, eu também não faria tanta falta por lá.Quem parte em voluntariado, não olha ao local e entrega-se por inteiro a uma causa,que abraça como sua.
Os amigos estão felizes, por me ver entusiasmada, na verdade foi tudo muito rápido e inesperado e talvez seja melhor assim, porque se pensar muito começo a pensar em tudo o que gosto e que deixo ficar.O que mais me povoa o pensamento, são os meus utentes do Telhal.Vou ter saudades, muitas saudades da magia que se vive ali dentro.
Hoje em conversa com a minha médica, ela aprovou por inteiro, acha que me vai fazer muito bem e acha que eu devo sempre aproveitar o tempo da minha vida, para fazer o que realmente sinto vontade.Afinal, ela e eu travámos uma luta contra uma doença dificil, mas que nos faz ver a vida de outro prisma, que nos faz por exemplo saber exactamente o que fazer com este tempo que nos é dado.
 O relatório médico em Inglês, vai ser feito por ela, para que tudo corra bem.No fim recebi como é habitual um grande e forte abraço e deixei ficar uma caneta permanente que ela tanto gosta, com tinta roxa.Estes 5 anos, tornaram-nos mais do que paciente e médica.Temos uma ligação mais forte e uma confiança que vai além.Marcámos consulta para Setembro, mesmo no mês de regresso.
Sentir esta força por parte de todos, é bom.
Por estes dias, tenho muito a fazer.
Mas no próximo fim de semana,Talvez vá até ao Algarve, despedir-me da minha afilhada, que vai ser mãe em Maio, eu não estarei cá, para ver o Simão vir ao mundo, com o nome que eu mesma escolhi.É uma honra.Espero que venha a ser uma grande pessoa.
Os pensamentos são muitos por estes dias e pela rua, as pessoas ainda continuam a dar-me os sentimentos e a perguntar como estou.Sinto-me um bocado observada.Mas sei que gostavam muito do meu Pai.
De forma alguma ando a fugir ou a tentar apagar o que aconteceu.
Só não preciso que me lembrem todos os dias, porque eu lembro-me sozinha.

Passaram 22 dias, desde que ele partiu.22 dias plenos de emoções, de mudanças e resoluções.As lágrimas cairam, mas os sorrisos foram tantos e partilhados.
E o futuro é uma promessa.
Obrigado Pai.

1 comentário:

erute disse...

Ainda não me tinha manisfestado no que respeita à tua partida para a missão, mas sabes que fico bastante Feliz por ti.
Afinal até foi nesse caminho que nos conhecemos :)!
Fico cá a rezar por ti... E estarei cá para ouvir as histórias maravilhosas que terás para contar.
Beijos!