segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O dia de ontem.





Os contornos que tem o impacto de uma morte, na vida de alguém é incalculável.
Ontem, tomei o pequeno almoço com o paulo.Estive quase todo o dia com ele, a ouvi-lo, a permitir que a sua dor saisse para fora.Faz bem, quando podemos falar sobre aquilo que nos prendia a alguém...de forma tão bonita.Sem pressões, sem pressas, com momentos de silêncio.
Fomos até á costa, ver o mar, a praia onde o Pai, adorava ir e passava bons momentos.Ali ficámos a ver o mar, e a respirar o fresco que vinha de lá.A cor do céu, uma promessa para o futuro.
Caminhamos, absorvendo os traços do dia.Depois estive em casa dele, com a família, que há muito sinto um pouco como minha.Em cima da secretária, o paulo guardou com todo o cuidado os óculos do Pai, que sempre lhe pedia para apertar.Tocou-me.
O que me tocou também, foi a serenidade de todos.O que sentir, quando ele já estava a sofrer tanto?
Ali respirava-se paz.
Uma paz, que também eu anseio respirar, pelo meu pai.Ao fim da tarde fui vê-lo.
A sonda mantém-se, as veias vão sendo escassas para colocar agulhas,as veias rebentam e os braços são como um campo de batalha, cheio de manchas.Pediu água, e logo a seguir vomitou essa mesma água.Nada fica lá.
Sinto-o tão cansado.Tão farto de estar ali.Se isto se mantiver mais tempo, ele vai criar feridas no corpo, de estar deitado, disse-nos a enfermeira.
Por mais mimos que lhe possa dar, ele não esconde a sua tristeza e preocupação.O olhar vago.
Deixei-o, para mais visitas que esperavam subir e fui para o Telhal.
Quando entrei na sala de refeições, aqueles rostos mudaram de feição.A minha amizade com aqueles doentes, é tão bonita, que não saberia viver sem ela.Arregacei as mangas e comecei a ajudar, servir aqui, limpar ali, abraçar além...sorrir sempre.
Saimos do telhal, eram 22h, ainda fui jantar com o Duarte, ali pelos lados de Sintra.Chovia muito e encostados ao vidro do "Júlio", mandámos vir um bitoque e muita conversa.O dia terminou mesmo encostada á cama a pensar em tudo isto.
E penso, que a nossa missão na terra é esta mesmo, não pára, onde quer que estejamos, com quem nos cruzamos.Entender a vida como uma missão, ajuda-nos a perceber muito facilmente, onde é, e ainda melhor, onde NÃO é, o nosso caminho.
É tudo uma questão de tempo.Não há como adiar.
Feliz por se desenhar assim o meu caminho.



Ps.Agora vou ao velório do Pai do Paulo.Respiro fundo e lembro-me da força.
 

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