Quadro de fim de tarde
Hoje, ainda não houve tempo para mim, a não ser um banho prolongado e quente depois de deixar o vento lá fora, mas em contrapartida alguns dias foram bem melhores e a força aos poucos regressa.Vejo todos os dias o pôr do sol pela janela do autocarro.Hoje enquanto o admirava, recebi o telefonema de alguém que o via também de uma praia...esta sintonia, fez-me bem, aconchegou-me, podia ouvir o mar. O vento só não está demasiado frio porque estamos recém saídos do mês de Agosto - sente-se que o Outono está impaciente por chegar.
No caminho para casa, vejo no jardim pessoas que não correm, apenas caminham por ali, conversando calmamente. Um senhor com ancas de senhora ensaia os primeiros passos antes de atacar a corrida. Um ou dois casais de namorados resistem ainda à barreira das sete da tarde.
E as folhas prestes a sucumbirem à passagem das estações enchem o jardim de uma outonal melancolia.
(às vezes o mundo explode, o meu interior encolhe-se, fecha-se sobre si mesmo. às vezes sou toda agressão e as palavras falham-me. Falha-me também a doçura no coração, escapam-se-me os vocábulos da ternura e é tudo amargo por dentro.Tento imaginar até quando vou viver com o coração na boca, até quando serei onda de fúria irracional mas não consigo prever-lhe o fim.É uma experiência fora-de-corpo, a língua querendo furar a muralha de silêncio que também me imponho.
Mas, noutros dias, compreendo como tudo o que me foi dado é a maior das bençãos e que o que vejo de fora chama-se mesmo amor.)
1 comentário:
O nome é mesmo esse: Amor!
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