O mundo ao contrário?
Não sei se é de repente estarem trinta e tal graus sem eu ter percebido como. Não sei se são as ervas já torradas, secas a perderem o verde, interrompidas apenas pelas sombras tímidas das árvores à beira da estrada. Não sei se é por ter o peito quase a rebentar de coisas que não consigo dizer.
Os meus olhos um dia rebentam com este querer tão bem, os meus olhos um dia param de conter as lágrimas e é um oceano que aí vem, um oceano de ternura, de sonhos noutros olhos, um oceano cujo tamanho me ocupa toda por dentro.
As minhas mãos um dia não param, procuram a alma das coisas em intervalos cada vez mais curtos, as minhas mãos um dia falam e serão elas a entregar a mensagem, serão elas a oferecer o absoluto. As minhas mãos não me traem como me traem os lábios, que querem falar, querem gritar isto que sinto.
Dos meus lábios escapa a certeza a consumir-me sempre que se faz silêncio, escapa a realidade que acredito não merecer. E quando olho para trás, quando penso em mim há cinco anos atrás,antes de tudo, é como se eu tivesse sido toda uma outra pessoa, vazia de sentido, gravitando em volta de uma ideia remendada da felicidade.
Não sei se é desta tempestade de sentimentos, não sei se tudo acontece porque voltei a acreditar, mas também a aceitar a realidade dura do momento.
Mas esta calma,força e esta tranquilidade natural tem o seu preço.
Quando dei por mim, estava a chorar agarrada á almofada ou a empurrar os soluços para baixo em frente ao computador. Esta grandeza toda, do que tenho vivido, dá-me nós na garganta, baralha-me o discurso e faz-me estar deitada no escuro, simplesmente a sorrir ou a chorar com aquilo que me vai acontecendo.
Mas sempre a confiar.
Já não são só receios ou alegrias simples, são as centelhas que me escapam dos olhos por Deus me fazer assim feliz e abençoada, ainda que pelo sofrimento.
E sinto que está cada vez mais perto a minha entrega.
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