quarta-feira, 27 de maio de 2009

Palavras que guardei.












Acerca de um dia que já passou, em que choveu...e em que as palavras ficaram guardadas,num caderno de mala, mas não podem mais esperar.



Sejam elas livres...e gritem de si.





Os dias escuros abatem-se sobre esta cidade ás vezes, o dia na sua luz que resta é apenas a que, a espaços, surge entre os prédios. Com o entardecer, pouco a pouco, a chuva miudinha transforma-se em noite. Penso em ti, mas não estou contigo. Penso em ti e estou com outra pessoa, mas na minha mente és tu quem aparece, saído da prateada chuva vespertina, e sinto-te tão perto que consigo cheirar o teu perfume.


De quem é o corpo que toco? De quem é a respiração que ouço tão perto do meu ouvido? E este corpo procura-me, fala-me, pede-me que o tome e esqueça tudo o que está fora desta sala, que deixe que o passado caia no esquecimento de um beijo.


E então compreendo que a distância é um conceito que não é compreensível para mim. Sinto-te tão perto e estás tão longe, tenho-o aqui e sinto-o a mil milhas de mim. A vida expande-se silenciosamente para além das grandes janelas molhadas, e as leis da física não são mais do que enunciados teóricos diluídos nas gotas destas janelas. Gotas que passeiam a grande velocidade nos vidros, e desagregam em tons e formas o sorriso que vejo à minha frente e os braços que me cingem para criar o som de outro riso e a luz de outro olhar.


Observo o semblante que tenho diante de mim, e ouço as tuas palavras entrecortadas que me sussurram ainda, hoje só há duas coisas no mundo para mim, tu e a chuva. Não respondo e fecho os olhos, porque não sei mais o que fazer ou dizer.

A chuva impetuosa cai cada vez mais forte, como se acometesse por todas as partes, anulando todas as distâncias, e imagino os nossos corações tocando-se, nós sob um chapéu de chuva que mal nos protege da intempérie,ou mesmo á chuva saltando as poças de água numa rua qualquer. Saio para a rua e penso que só a chuva pode levar consigo o que trouxe, e só me resta esperar por dias de sol em que saiba aproveitar o que tenho ao alcance das minhas mãos.

As luzes dos candeeiros já se acendem e caminho sob a chuva crepuscular, cai a noite e apesar da escuridão e do frio este é para mim um doce entardecer, pois transformou-se na perfeição da tua lembrança.




Escrito no miradouro da Polux em Lisboa...

1 comentário:

Fernando De Jesus disse...

Olá Ritinha, boa tarde! Adorei mesmo o que acabei de ler: um autêntico poema em forma de prosa...E que poema, meu DEUS! Estou francamente deliciado...
1 beijinho e 1 abraço apertado ;)