Hoje
Por esta hora o Telhal dorme tranquilamente, sobre os seus vales silenciosos, cobertos pelas estrelas que ali brilham, ao som dos grilos e coachar das rãs.Por ali ecoam no ar sonhos que nunca sairão dali e aos quais eu darei eco.
Foi assim que deixei o Telhal hoje, depois de aconchegar na cama, alguns doentes, dar-lhes o jantar e rezar com eles.Depois de lhes sorrir com um amor maior.Porque merecem, porque o fazem sair de mim de encontro a eles.
Depois de reencontros esperados ou não e percorrer de novo aqueles tunéis...
O dia de domingo, foi escolhido com coração...será o primeiro de muitos, onde o meu sorriso e abraço andarão á solta por ali a quem os quiser receber.
Foi a espera do Deodato, o abraço firme do Juce,o rosto que não fala e não ouve, mas abraça apenas com o olhar, os rostos que já não via há uma semana, da nossa Páscoa,o Borrego, o Ruben, o Mário e Filipa de Skate na mão,o Alberto, rostos que percebi a falta que me faziam.Por isso voltei.
Sei que ali dentro tenho também uma missão a cumprir e uma família á espera.
A bata azul, que aperta já a encontrei.E visto-a.
E alguém me chamou.Muito claramente.Não vou sozinha.E isso é tão bom...tenho comigo alguém que tal como eu, descobre daquilo que é capaz com gestos tão simples, como sorrir.
Telhal é chegar a casa, é abrir o coração muito antes de lá chegar, e depois lá, sentir imensidão...400 e tal vidas á minha, á nossa espera.
Não conseguirei cruzar-me com todas, mas algumas já me tocaram ou eu toquei e isso foi maravilhoso.
Hoje cruzei-me com um voluntário Palestiniano, no corredor, foi na parte mais escura do túnel, ficámos á conversa depois de percebermos que ambos éramos voluntários.Fomos para a luz.
Um encontro com alguém que veio da Palestina, para passar 15 dias com estes doentes, é musico-terapeuta e uma simpatia.Percorre os corredores de música nos ouvidos e á descoberta de dois dedos de conversa, que lhe demos.
No Telhal o mundo.Quem diria.
Prometemos voltar, para juntos percorrermos outros caminhos.
Sente-se talvez um pouco sozinho ali dentro.Voltaremos sim.E segundo ele, já temos um amigo em Israel para nos acolher, quem sabe um dia.
Encontros e reencontros...tão inesperados mas que nos fazem pulsar.
Desta felicidade, falei eu, á Catarrina, que também tem o seu castelo e as suas princesas.E como eu a compreendo agora muito melhor!
Não esqueço as suas palavras...de quem caminha na hospitalidade há mais tempo.
Catarrina :
"Só n te esqueças, que a partir de agora tens um compromisso com eles, estarão á tua espera.
Se acordares de manha e não te apetecer, estiver a chover, aparecer outra coisa....lembra-te que eles estão a contar contigo, á espera do teu tempo, do teu abraço."
Não me irei esquecer certamente.
E conto com todos aqueles que quiserem num Domingo á tarde dar um pouco do seu tempo a quem precisa e garanto que não se vão arrepender, eles são de uma ternura que espanta, que desarma, que faz sorrir...têm frases que ficam e marcam, ensinam tanto.Saímos dali, com a alma renovada e eles ficaram aconchegados pelo abraço que não vai faltar.Pelo menos o meu.Atrevam-se...e vão ver que tudo fará mais sentido.
Mal sabia eu que ali algures entre o verde e as grandes cidades, estava tanta gente á minha espera.
Bom agora é esperar o grande dia, Domingo, dia em que irei buscar o Deodato, arranjado de gravata e perfume,oficialmente, para vir almoçar a minha casa, com os meus pais.Pela 1a vez, pois espero poder levá-lo a mais sítios.
Sei que fará muito bem a ambos.Quero este encontro.
Quero que ele sinta que sim, que tem uma família, porque eu o escolhi, porque o queremos acolher.E quero, que a minha família sinta que no sofrimento, pode existir sempre alegria e força, como só o Deodato tem, na sua inocência e beleza.Gosto tanto dele.
Estou em paz.
Hoje, sujei-me, cansei-me, percorri, ri-me muito,senti saudades,cantei a plenos pulmões, compadeci-me pelo que não posso resolver, mas pelo menos estava ali, pronta para o abraço que ás vezes não chega...e recebi tanto.
Como agradecer, tantas coisas boas...num só dia, no espaço de uma semana?
Sou uma sortuda.
É, no fundo é isso.
3 comentários:
Vê lá, com gravata e tudo... é para o noivado oficial?
Abraço com o aroma do cravinho
Bom dia, Ritinha! Adoro-te e admiro-te tanto, tanto... Boa semana e tudo de bom! Preciso de ti :) Abraço*
Meu amor, o Telhal está agora mais rico... :) Sei que darás o teu melhor, como sempre. :)
O que te disse é o que digo a mim mesma em muitas manhãs...
É a velha historia do Principezinho, quando a raposa diz "Se tu vens,por exemplo,às quatro da tarde,desde às três eu
começarei a ser feliz.Quanto mais a hora for chegando,mais eu me sentirei feliz.Às quatro horas então,estarei inquieta e agitada:descobrirei o preço da felicidade."
Adoro-te :) Beijinhos grandes
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