domingo, 22 de fevereiro de 2009

De uma tarde de luz, imaginei.

















A manhã do mundo abria-se de súbito ali. Uma alegria exaltada apenas pelo cantar dos pássaros no telhado em frente e pelo som longínquo do mar lambendo a areia branca, em mais uma manhã de Fevereiro.Podia ela imaginar.
Durante o resto do ano viviamos talvez adormecidos, entre pilhas de papéis inúteis, engarrafamentos, filas e preocupações constantes.Onde ela, teimava em buscar os raios de sol, e sorrir.
Entre eles as coisas nunca foram calmas, havia sempre uma fúria, uma pressa incrível de amar e fugir. A verdade é que passados alguns anos, nem mesmo a fúria parecia já existir. Era um amor que se perdia todos os dias no caminho da indiferença.Mas por agora não tinha que pensar nisso, tinham ambos ido de férias. Ele para a terra do nunca e ela para ali. Junto daquele imenso areal que parecia estender-se até ao infinito, as vivências mundanas, por piores que fossem, desvaneciam-se na atmosfera de eterna paz e de continuo movimento.A alegria nascia ali, por entre o chão coberto de agulhas de pinheiros e arbustos de camarinhas, apinhados de pequenos frutos cítricos e brancos, que ao longe mais se assemelhavam com neve. Naquela casa em madeira e colmo que comprara de um velho de pele curtida pelo sol e pelo sal, ela passava o mês que queria e todos os outros dias nos quais se conseguia escapar de Lisboa. Apenas com três divisões, o quarto, a improvisada casa de banho e a sala que se fundia com a cozinha assim ela existia verdadeiramente. Mobilada com móveis de madeiras modestas mas resistentes e com uma larga lareira que lhe aquecia as noites e lhe escaldava o rosto, a casa era completamente diferente do apartamento frio de Lisboa.
Ela sempre fora assim. Fugia, sempre que o mundo parecia desabar nas suas costas. Era alguém diferente apenas ali.Tinham alguns amigos por aquelas bandas,um casal que tinha uma casa semelhante à sua e que morava nas redondezas a uns minutos de caminho, também o Francisco, o rapaz que atendia ao balcão na mercearia/tabacaria/taberna Gracinda, que ela frequentava apenas para comprar os viveres necessários à sua estadia ali.Aquele era o seu refúgio longe de Lisboa, longe dele, longe de tudo o que a atormenta, mas principalmente ali era o espaço para sonhar.Ali deitada na rede do alpendre, ela era tudo; não era apenas aquela que assiste e ajuda a crescer com amor, o filho de alguém que nem nunca vira. Ali era a fotógrafa, a pintora, a música, a antropóloga, a viajante… era como se neste local não só as agulhas de pinheiro caídas no chão estivessem a seus pés, mas sim, era como se cada agulha representasse uma pessoa e todo o pinhal o mundo que amava.

Mas afinal porque se deixa ir na corrente de um sentimento que não quer mais como seu?
Então porque razão ama alguém que não sabe amar?Se ela sabe tão bem, como é amar.Não precisaria mais deste esboço.
Sem mesmo pensar que talvez, só talvez, pudesse ficar ali para sempre ou simplesmente, partir.





1 comentário:

Anónimo disse...

Numa tarde de luz, imaginei...
Parti, sorri, corri, voltei!
Mas sempre estive aqui,
Aqui onde vivi, cantei, amei, sonhei.

Abraço*