quarta-feira, 14 de novembro de 2007




Vértices do meu olhar...




Em vão procurava alhear-me a tudo,na mesma paragem de sempre esperando o autocarro.
Queria vogar, no meu modo vagabundo de ficar distante de mim e de quem me rodeia, lunática, de olhos no longe.
Mas a atenção indesejada prendia-se e prendia-me aos rostos de quem se cruzava comigo, fazendo-me tecer conjecturas, um pouco doidas, algumas.
E de repente vi um casal.
Fiquei paralisada pelo que transpareciam. Não olhei bem para ela, avaliei-a em visão periférica, era precisamente dona de uma enorme tristeza no olhar...mirando o chão.
E ele, iluminado na sua presença.Sorrindo, falando com as mãos, sonhando para ela.
Ela porém, nem via metade...dos sonhos que ele desembrulhava ali...
Senti-me fascinada pelo desconhecido que assim se me revelou abruptamente.
Como seria aquela pessoa?Aquelas pessoas?
Do outro lado da rua, eles evoluíam em câmara lenta, e reparei nos olhos que ele pousava nela e também que não a via realmente, via outra.
Uma pessoa imaginária. Alguém que correspondia a uma imagem que vinha de dentro dele e ele lhe emprestava.
Nenhuma cumplicidade real, ela estava fora e ele estava dentro.
Cá fora apenas um não-ser, de modos vagamente apressados e desatentos.
Esmorecidos.
Apesar de tudo, vi que ele lutava.Porque acreditava.
Quando finalmente acabaram de passar, senti-me muito mais só, mas também muito mais livre.
Podia soltar os pássaros de mim, em voo rasante aos sonhos, como tanto gostava.
Sorri.
Creio que estava profundamente surpreendida e um pouco divertida, também.
Aquilo mostrou-me que havia mais do que um vértice no meu olhar.
E era bom.

Sem comentários: