domingo, 16 de setembro de 2007

Casa Mãe...
Olhos de Água...
Pelos olhos da Alma...









Entro em casa e pouso a mochila no chão, tenho agarrado ás calças um pouco de palha, que trouxe comigo...e alguma areia nas sandálias...
Cheiro a verde, a água pura da Nascente do Rio Alviela...onde descansei e bebi do som do rio a correr, da chuva que batia na tenda pela manhã...do respirar da terra, encostada ao meu peito.
Saímos por aí, sem destino certo, onde o carro nos levasse...estava bom, sem muitos planos, apenas o de estarmos juntas e darmos algum tempo á nossa amizade.
Porto e Lisboa, não fica perto...e há sempre tanto para dizer =)
Casa Mãe
A música alta, os vidros abertos, o vento na cara, e o carro cheio de coisas, sacos cama, tenda, roupas espalhadas...
A primeira paragem foi em Aveiras, para dar um abraço ao Filipe...na Casa Mãe, onde trabalha com crianças que foram retiradas ás suas famílias pelas mais variadas razões, encontrámos uma CASA, um verdadeiro lar, e muito amor e ele nasceu para fazer o que faz.
Percorremos a casa, entrámos nos quartos, alguns descansavam ainda depois do almoço, mas os olhitos curiosos procuravam saber quem eram aquelas duas meninas?E sorriam em surdina...
Aos poucos foram despertando, abrindo as janelas...e o lanche esperava-os na sala...e ainda uma surpresa feita pelo Filipe, tapada com um lençol branco!
Entram na sala á medida que se despacham , sentam-se no seu lugar, e sorriem-nos com os sorrisos mais doces e rasgados do mundo...e muita expectativa.
O céu lá fora está cinzento e ameaça chover...
O Filipe rápidamente lhes explica que somos suas amigas, e que estivemos com ele, naquele local que ele gosta muito, Taizé, e muitos outros...e rápidamente merecemos também a amizade daquelas crianças, que vêm nele e em quem lá trabalha, o Pai e a Mãe...
E saltam-nos para o colo, beijam-nos, abraçam-nos e nós, retribuimos beijos e abraços cheios, merecidos...bem dados!
Sentados no tapete, escutam o Filipe, que destapa o lençol, dizendo que hoje vão começar a construir o Museu da Natureza, lá em casa, e pelas mãos passam-lhes, Pedras, lava, cobras em frascos, piranhas, corais, conchas...
Ficam fascinados...olham para nós contentes por estarmos ali.
É-lhes lançado o desafio, de naquela tarde, no recreio irem procurar coisas para o museu...
Correm lá para fora, em gritos e liberdade, a casa tem um jardim lindo e grande...cheio de mistérios, cabanas, esconderijos, palco de brincadeiras que são mundos e conquistas.
Pouco depois correm para junto de nós, com lesmas na mão, bocados de cortiça, tudo serve para pôr no museu, mas o Filipe tem que dar aprovação...e as lesmas não ficaram...Correm de novo em buscas infindáveis debaixo das pedras, troncos...enfim!
Outros preferem andar de bicicleta, subir ás árvores, uma delas não me larga a mão, e vai comigo para todo o lado.
Deixo-me ficar...ali, observando a sua natureza irrequieta e rebelde, mais rebelde que a dos meninos felizes que vivem nas suas famílias...e que têm tudo.
Está a chover e depressa recolhem a casa, é tempo de tomar banho e vestir já os pijamas, tudo com extrema organização, tomam banho sozinhos, e os mais pequenos vamos ajudar...
Sinto-me naquele momento parte da casa...e preencho a ficha de voluntária, dando como disponibilidade, um fim de semana por Mês, para ir ajudar na casa, no que for preciso =)
Acompanho cada passo do Filipe, e apercebo-me de que aqueles meninos têm muita sorte em tê-lo por perto.E isso dá-me uma certa segurança.
Chega a hora de partirmos, despedidas sentidas e a promessa de voltar, é sempre assim...Não chego para o mundo inteiro, mas corro por dentro.
Partimos...com um croki, feito pelo Filipe...e está decido, fomos passar a noite aos Olhos de Água, na nascente do Rio Alviela...acampar, apesar da chuva, sim!
Saímos da casa em Paz e ao mesmo tempo pensativas...
Olhos de Água
O caminho foi claro e o céu limpou, deixando ver as estrelas...
Percebi que tinha deixado o telemóvel em Aveiras, a Clara sem bateria...estávamos por nossa conta, e assim soube melhor!
O cheiro a campo entrava por todos os lados, cantavam grilos...
Chegámos á recepção do parque ás 20h45, tinhamos 15 min, para dar entrada...foi preencher tudo e jantar num bar de madeira mesmo em cima do rio, um rio que calava qualquer som, com a sua música!
Depois foi montar a tenda...
O parque estava vazio, apenas mais 3 tendas nos faziam companhia, numa espaço que dá para 200 tendas...escolhemos um local mesmo em frente a um sobreiro dono de um tronco mágnifico.
E a já a noite ia alta, vestimos os biquinis e fomos deitar-nos na margem do rio, a ouvir aquele concerto.
Não havia vento, estava quente...e 1000 estrelas pintavam o céu...e o mesmo reptiu-se...eu algures a olhar o céu, aviões que passavam...mas desta vez não vi nem uma estrela cadente...
Não havia ninguém para além de um segurança velhote, que percorria o local, e depois de grandes, boas e más confidências que fazem rir ou ficar saudoso, lá fomos a banhos...numa água gelada, e calma!
O segurança assistia numa ponte de madeira, mesmo por cima de nós...pensando que seriamos loucas.
Um rio só para nós...primeiro um pé, uma perna, os braços e por fim contámos até 3, e lá mergulhámos, quando nos levantámos, foi impossivel não gritar, até me doeram os ossos...rimos, esbracejámos...e rápidamente saimos, pois o frio começou a atacar-nos, fomos direitas ao balneário e uma água que escaldava foi assim do céu, sobre o meu corpo...
E eram 2h da manhã, quando por fim nos deitámos ...não me lembro de adormecer...sequer!
Aconcheguei-me no saco cama, quentinha...e ansiando o dia amanhecer, para ver o verde e surpreender-me, o que sempre acontece quando se chega a algum lado á noite.
Amanheci cedo com a chuva na tenda...caía forte e como é bom este som...pingos na tenda e o saco cama enrrolado em mim...voltei a adormecer, mas para acordar depois com o sol e efeito estufa na tenda...uuuuuuuuuuuuuuufffff...
Abri o fecho e espreitei lá para fora..espaço, sobreiros, o rio a correr...
Na maior das calmas nos levantámos, sem horas...e calmamente, fomos sentar-nos na esplanada, viradas para o rio e para uma vegetação fresca, onde já andavam muitas crianças em brincadeiras e saltos das árvores...
Leite com café, quente...uma torrada...ao sabor de um sol morno, que tormou esta manhã assim sem pressas!
A seguir uma caminhada curta, até á nascente...
A clara sobe, eu fico nos degraus ao sol, sozinha, 15 minutos, que me fizeram pensar em tanta coisa...
Voltamos ao parque...e ao rio, há imensa gente por ali, almoços de família...
O mesmo rio da noite anterior, que conhecemos vazio...e brilhante, revela-se agora azul no seu fundo...
Por todo o parque se respira calma e serenidade, o verão despede-se...e nós aproveitamos até ao último instante!
Mais um banho quente, antes de partir...desmontar a tenda, arrumar tudo...ao som de música que nos fez dançar, e aquelas tarefas que são mais chatas quando se desmonta tudo...foram leves=)
O destino Aveiras, deixámos para trás o um retiro a duas, de cumplicidades de recordações e de calma, muita calma, sem correr, deixando que a vida traga o caminho que quiser por estes dias...
Fizémo-nos á estrada...ao som das fabulosas valsas d' Amélie...vento, chuva...sol...tempo incerto, tal como o destino por vezes.
Fui recuperar o meu telémóvel...á casa Mãe, dar mais um abraço ao Filipe e ver aqueles rostos, lindos...não entrámos, ficámos pelo jardim, não querendo atrasar a entrada em Lisboa...
E eis que começam a aparecer prédios, fábricas...trânsito, tudo o que me faz sentir que não pertenço ali, mas sim ao que deixo para trás...
Mas a vida pede-nos muitas coisas, e todas fazem sentido...e têm um porquê!
E ao meu lado tinha ainda a Gnoma, que deve estar a conduzir A1 a fora, em direcção ao Porto, enquanto escrevo estas palavras...
Gnoma que me conhece como muito poucos...e que se ri comigo de expressões nossas, gnoma que conheci na missão á 5 anos atrás...e que nunca pude imaginar que se fosse tornar tão importante para mim...e cada vez mais o é!
Porque me sabe ler a alma como apenas alguns conseguem...e eu os leio também.
Imaginámos esta viagem daqui a 10 anos, com os nossos filhos e respectivos Maridos num carocha antigo e o destino incerto, como tanto gostamos...
Páro na porta de casa...tiro o que espalhado está do carro, preparo-me para a despedida, mais uma vez...mas as nossas despedidas são na certeza de um breve encontro...
Desse sempre alegre encontro...
(Desta vez a usência de imagens do fim de semana tem um motivo...esqueci-me do cartão de memória no berçário...grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!
Mas até foi melhor assim, livre de querer captar tudo...está tudo aqui, e as palavras descrevem sempre muito bem o que se viveu...)

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