terça-feira, 7 de agosto de 2007




Cores, sons, cheiros, tempo e distâncias...
O inesperado...visto pelos meus olhos, sentido pela minha alma.

O inesperado como nunca o tinha encontrado, e a forma como me soube bem e me ensinou tanto, me levou a tirar algumas conclusões...ás quais nunca chegaria, se estes Km percorridos a sós, não me ensinassem tanto.

Porque acredito, e sempre acreditei em sinais.Em lições tiradas do que a vida vai escrevendo...em mim.



Bom primeiro foi deixar para trás Lisboa, e fazer a viagem ao entardecer...e ainda em pleno comboio, absorver tantas coisas, vindas de quem chega e parte cosntantemente, num lufa lufa que existe, para estar com aqueles que se ama, nem que seja por uns escassos momentos.E então trava-se essa luta com os km, e com o tempo.

Mas os imprevistos começaram logo ali, quando no Entrocamento, o Intercidades, pára...
Eu pensei para comigo, que me reservariam os próximos dias...?

Andámos para trás e para a frente, numa tentativa vã de continuar viagem.Pelos corredores circulava gente impaciente, havia também gente na linha, comendo laranjas dos pomares, esperando o apito do comboio para correr lá para dentro.
Um arraial ali montado, ora pois, as pessoas da aldeia não viessem a correr ver o comboio, foi então a novidade do dia, e aposto que o tema do jantar...e do café logo mais.
Pouco depois chega um Alfa-Pendular, que pára atrás de nós, e logo a seguir um inter-regional, eram 3 comboios parados em plena linha, sendo o nosso o empata...



Depois foi chegar ao Porto, com hora e meia de atraso e encontrar este sorriso aberto, este abraço sempre nosso, para reconfortar a espera, e sentir que estava em casa.
Nunca serei capaz de descrever o que sinto, de cada vez que me esperas, de cada vez que eu te espero, seja onde for.


Voámos direitas a Santa Maria da Feira, para mais uma feira medieval do nosso infindável curriculo destas andanças.
Feira adentro, rufam tambores...o Castelo iluminado, parece tirado de um de conto de fadas.Mágnifico.



Uma feira, com imensa gente, pela encosta do castelo acima, na praça junto ao rio, muita mas mesmo muita gente.
O que nos saltou logo á vista, os artesãos, que nos sorriam á passagem, afinal rostos conhecidos de tantas outras feiras.
E desta vez, fizemos questão de passar tempo com eles, em cada barraca, parámos em média 20, 30 min, á conversa, e claro não saimos de mãos vazias de nehuma delas, mas sempre com desconto de amigos!!
E o que nos fica destas mini-tertúlias, em noite quente, é o amor que cada um deles tem por aquilo que faz...por cada peça ser única, por haver uma entrega que muitas vezes não é recompensada por qualquer feira...ou negócio.
Por isso é que eu, me guardo para estes momentos, e acabo por encontrar, A mala, As sandálias, A túnica, A peça...única, que ninguém mais tem...porque nunca nenhuma é igual.
Isto não se de trata de exclusividade, mas de trasnportar comigo a alma, que cada um deles depôs ao fazer essa peça, e esse brilho transparece...

O que me soube realmente bem, nesta feira foi esse contacto, com cada um deles e sentir que posso sempre encontrá-los por aí...permanecendo numa espécie de elo, com o mundo e uma alma comum, que procuro incessantemente.E encontro-a.
O que me soube bem, foi ter-te ao meu lado, e contigo descobrir, e não ter pressas...
Foi perdermo-nos e já não saber por onde andávamos, percorrer ruas, perguntar onde ficava, e no fim perceber que estávamos perto, muito perto do carro.O que eu me ri...e o que se riram.





A noite como sempre, terminou tarde, para no outro dia, numa mesma correria, que sucede sempre que os meus pés pisam o Porto...lá fomos em busca do expresso, para Terras de Miranda...
Pensar que estive quase a entrar num expresso, com destino a Sendim, e que tirei bilhete, e quando ia entrar, me apercebo, que este Sendim, era Sendim de Tabuaço, Viseu...foi saltar, e pedir que me reembolsassem...e assim foi.
Ufa que grande susto...seria pior a emenda que o soneto.
O dia começava bem...
Expressos, comboios, enfim, esgotámos todas as possibilidades...e transportes para aquelas bandas, ao sábado e domingo, nada.
Por isso a opção foi apanhar expresso da Rodonorte para Mirandela, onde tenho amigos...e de lá se veria como percorrer os 120 km, que me separavam de Sendim, e do Festival Inter-céltico.(O meu objectivo inicial...)






Assim que deixo o Porto para trás...e começo a embrenhar-me no Marão, ponho de parte qualquer receio de não chegar ao meu destino...e confio, deixo que os meus olhos repousem no verde imenso, nas escarpas rochosas...e ao som da música que escolhi, lá fui...e pensava para comigo, SÓ TU!!!

Rindo-me de mim mesma, mas saboreando a minha liberdade.








Chego finalmente a Mirandela, ás 14h30, um calor abrasador, que me fez beber 1,5 L de água em 10 min, sofucava tudo e todos...
De mochila ás costas, sorriso no rosto, sentei-me na escada da gare, e pensei para comigo, estás entregue a ti mesma...decide o que vais fazer...o que realmente queres, e te trouxe aqui!
Lentamente comecei a pôr de parte a possibilidade de ir para Miranda...pensei pedir boleia, pagar 90 eur de Táxi, pensei tudo...
Rápidamente me apercebo, que a cidade está em festa...há música nas ruas, enfeites, uma animação...a ponte Romana, reflectida no rio...os barcos, a praia fluvial...a vida daquele local, depressa me apaixonou.
Peguei no telemóvel, e liguei aos meus amigos, que já me aguardavam, pois tinha dito que ia este fim de semana para os visitar...mesmo que fosse de passagem, o que cabou por ser mesmo de paragem.
Do outro lado alegria, ao ouvirem-me, foram logo ter comigo, ou não recebessem bem as gentes do Norte...
Ao meu encontro a correr, o sorriso da Catarina de 4 anos...a minha grande companheira destes dias...LINDA, LINDA, LINDA!
Fui muito bem acolhida, o que me soube muito bem depois daqueles momentos em que me senti um pouco perdida...
Abraços, risadas, insistência para ficar...para participar das festas...
Não fui capaz sequer de dizer Não, ou até de pedir que me levassem a sendim.Acho que quem nos acolhe assim, não merece de forma alguma esse partir...e entreguei-me ao inesperado.
Pensei para comigo, que não estava destinado ir para este Festival, por alguma razão.
Percebi então mais uma vez, que nem sempre aquilo a que nos propomos acaba por ser conseguido, mas importa tirar partido do que a vida gentilmente prepara para nós...
E aceitei.







Acabei mesmo por ficar, envio uma sms a quem por mim esperava em Sendim, e com alguma pena...digo que não vou.
Tomo um banho de água fria...adormeço por fim durante 2h, fugindo ao calor Transmontano...a Catarina veio dormir comigo, e podia senti-la a mexer nas minhas tranças, devagarinho, fascinada com tantos guizos, missangas e afins.









O jantar no terraço, com vista para os montes...deu-me novo ânimo, recordar ao jantar, a altura em que me conheceram...e tudo o que já passou por nós...o tanto que mudou nestes anos...a vez que fizeram 7h de viagem para me visitar no hospital, tudo isso não ficou nunca esquecido.
O estar ali, com eles, foi de certa forma celebrar a vida...a nossa, esta que temos e que corre inevitávelmente noutras vidas, porque só assim faz todo e qualquer sentido.

A noite caiu por fim, e as margens do rio, enchem-se de de gente vinda de todo o norte do país, Mirandela, estava pelas costuras, e este povo é de uma alegria contagiante...eles fazem mesmo a festa...seja onde for.
Tudo brilhava...


l

Por volta da 1h da manhã o fogo começa, 1h seguida de fogo, que eleva todos os olhares para o céu...maravilhoso.A banda sonora, contava curiosamente com músicas que me dizem muito...e que marcaram grandes momentos...estes últimos meses...e por isso, escapa-me inevitávelmente uma lágima...fugidia, que niguém viu.



E porque o calor era muito, mesmo muito, após o fogo ninguém se foi embora, e até ás 3h da manhã, havia gente nas margens do rio, sentados, a conversar, deitados a dormir...e muitos lá passaram a noite, para continuar a festa no dia seguinte.

Eu fiquei no meio de 3 meninas lindas, que me encheram de cócegas, de moches, de brincadeiras...e tudo isto com o cheiro a rio e a brisa fresca que só ali corria.

No meu pensamento tinha no entanto, amigos, muitos...os que estavam no Andanças, os que estavam no Inter-céltico, a minha Clara...no Porto, e tantos outros...espalhados por ai...

Parti para Lisboa depois de 2 dias de boa disposição...e as horas de viagem, foram nem mais nem menos, do que uma grande reflexão...



Ao chegar a Lisboa, o abraço e o sorriso do Paulo...esse que é sempre certo.

Ainda assim, o sorriso na chegadas e partidas foi uma constante.

E essa é para mim a maior força e certeza, de que é isto que desejo continuar a ser, na vida de cada um...como o são na minha.

Porque há caminhos que escolhemos...e há caminhos que nos escolhem...e contra isso, nada há a fazer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sou um sendinês de Sendim de Miranda do Douro. Por um acaso vim ter a este blog.
Foi pena não ter estado no festival, que como sempre, foi uma maravilha, mas pode crer que fiquei contente com o que escreveu.
A sua felicidade e a linda prosa que escreveu são algo de maravilhoso também.
Afinal o festival contribuiu para algo de bom.
Bem haja, continue com essa jovialidade e alegria e escreva o que sente, que fará sempre bem a quem o ler.