Moravas nas Minhas Mãos...
Estava parada no caminho, esquecida de há quanto tempo. Tinha a cabeça inclinada para trás, os olhos postos na lua. As mãos, abertas para aquela luz extraordinária, iam-se enchendo de pensamentos para acarinhar, mas eu não os acarinhava, naquele momento não percebi que devia ser as minhas mãos.
Quanto tempo passou é um mistério. Apenas sei que vivi muitas luas parada naquele lugar, naquele momento silente, no gesto único que me salvou, deixando-me inconscientemente receptiva ao que o olhar desapercebeu, fascinado pelo seu astro favorito.
Os lábios falavam quando era caso disso. Sorriam muito. Eram a minha ligação com o mundo, o engano com que aparentava estar onde me julgavam... Eram um álibi para, na realidade, permanecer ali parada no caminho.
O que me despertou foi o ruído estridente de uns olhos lunares que em mim se cravaram e para eles desviei imediatamente os meus.
No exacto momento do encontro de olhares, tive o impulso rápido, instintivo, de pousar muito depressa ambas as mãos no coração.
Estavam tão quentes, tão cheias...Perplexa, sem te desfitar, temendo que fosses uma miragem, murmurei tão baixo que não sei se ouviste: oh... afinal era aqui que moravas!
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