sábado, 30 de janeiro de 2010

...esta menina, já descansa em paz.









 
 
 
Hoje estou longe e tu partiste, mas continuas a fazer-me sorrir na tua inocência.
Continuo a sentir a expectativa que criavas só de saber que começava mais um dia cheio de brincadeiras novas, que esperavas de mim.Como se eu tivesse uma caixinha mágica onde guardava segredos que todos os dias desvendava para ti...e para as princesas desse teu castelo.Sabes ainda hoje, acho que transporto comigo essa tal caixinha de pequenas magias, que me ajudam a pintar os dias, com palavras "bordadas a purpurina".E foste também tu, do alto dos teus 13 anos, que me ensinaste a fazê-lo.
Na tua bolinha de sabão, que ninguém pode compreender, eras feliz.
E é por isso que eu, te admiro tanto e nunca te esqueço.
Descansa em paz minha querida.
Um dia abraço-te, nesse teu mundo...
 
 
A A. partiu faz alguns dias.Eu apenas soube hoje...
Conhecia-a no centro de recuperação de menores, em Assumar, onde fiz um campo missionário.Conquistou-me desde logo.
Por motivos de privacidade, não posso expor o seu belo rosto.
 
 
 

Fly me to the Moon...







Sabem aquelas noites, em que a lua está cheia, e torna a noite azul...ainda com sabor a dia?
Sabem aquelas noites em que acabam o dia ao pé do mar, que está tão sereno, que parece um espelho e não o mar, e que por isso mesmo, vos apetece caminhar, caminhar e libertar os pensamentos...dar corda ás palavras, ao lado de alguém.Alguém que conhem bem e vos conhece e vos abraça com uma confiança que jamais acabará.Pelos passos que damos, 1000 palavras a sair e a dar forma ao que somos,vivemos, desejamos, tememos, acreditamos.
Ontem foi uma dessas noites e foi inesquecivél.Porque há dias, horas, momentos, que são como marcos na nossa história.Impossivéis de esquecer e mais ainda, possivéis de transformar.Se assim o quisermos.
E tu queres.E eu também por ti...a vida, ainda não sabemos.
O tempo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Aquilo que toco.
 

(Fim do dia no cabo da roca, 2007)



Aquilo que observo, diáriamente, é uma realidade dura, sem dúvida, mas é aquela á qual não posso fugir.Por isso enfrento-a o melhor que sei e sinto.
Quando visito o meu pai, nos inumeros internamentos, vou tocando histórias que me marcam.Muitas delas, para além da minha própria,fazem-me crescer, chocam-me, fazem-me pensar e por fim, ajudam-me a Amar ainda mais.
Hoje, quando fui ver o meu pai, deparei-me com um rapaz novo, na cama ao lado.Tinha chegado hoje.
Como sempre, disse boa tarde, abracei o meu Pai, perguntei como se sentia hoje, dei-lhe o miminho que sempre levo, mas que nem sempre pode comer.
Depois de estar ali um bocado, reparei nas mãos daquele jovem, delicadas, frágeis e pálidas.Tinha umas 6 pessoas á sua volta, o que achei demasiado.Mas vi que ele estava tão feliz...o mesmo não senti de quem o acompanhava.Ele olhava para mim de vez em quando.Havia uma luz á sua volta que não sei explicar.A tarde passou, veio o jantar, as visitas foram como sempre embora e eu fiquei.Porque fico sempre mais um bocadinho e porque conheço os cantos á casa e já não incomodo, faço antes parte da mobília, médicos, enfermeiros e auxiliares, já se habituaram a ver-me por ali.
Após, o jantar, uma equipa veio e retirou o Jovem, (que soube então chamar-se R.), para um quarto sozinho.Fiquei com pena, pois estávamos a falar há um bocado e podia perceber nele uma boa energia, uma doçura no olhar, uma paz, uma calma, que não é normal em quem está doente num hospital.Normalmente, há preocupação, cansaço de estar ali parado...ou mesmo distância e tristeza no semblante.Mas ele não.Sorria enquanto falava, no seu rosto de traços finos e delicados, abatidos no entanto.
Parecia abarcar em si, os sonhos mais bonitos para o futuro.
Quando ele saiu, a mãe que ficou com ele, enquanto arrumava as coisas,partilhou comigo que ele se encontra em fase terminal de uma Leucemia, por isso vai para um quarto isolado, para poder estar em paz com as suas visitas, que não têm limite de numero.
Tem 25 anos e um olhar e sorriso de meter inveja a muita gente saudável.Fiquei estarrecida, na cadeira a olhar para o meu pai que respirou fundo e fechou os olhos.Eu sei o que ele quis dizer com aquele respirar.Pensou como eu, QUE INJUSTO.Mais um.Sem retorno.
Porquê?
E fez-se silêncio.
Fiquei a pensar, naquele rosto bonito e meigo.Não podia ficar ali.Fui ao corredor, e procurei o quarto de isolamento, vi-o de longe, sozinho a ler uma resvista.Tomei a liberdade de perguntar se podia entrar e ele sorriu quando me viu.Sentou-se melhor na cama, como que antecedendo um diálogo, que queria ter.E foi isso que aconteceu.Uma partilha muito bonita e macia.Compreendo em parte o que sente.E ele sentiu-se compreendido.Rimos, tivemos em silêncio, falámos de coisas banais e de coisas bem sérias como a vida e a morte.Ele é feliz.Foi ele que o disse.
Posso dizer que aqueles 30 minutos, passaram e eu não dei por isso.Foi das conversas mais belas, fortes e profundas que já tive.
É impossivel, para mim, não me ligar ás pessoas desta forma, mesmo que não as conheça de lado nenhum.É mais forte do que eu, querer ajudar, como posso, quem se despede desta vida que eu tanto Amo.E agora que tenho um pai nessa condição, dou ainda mais valor a este momento que não deixa de ser especial, (e eu sei porque digo isto), é o momento em que nos apuramos mais, segundo o R.
O R. agradeceu-me a coragem e pediu-me para voltar sempre que queira, porque o ajudava a ordenar ideias, amanhã, ou depois, ou enquanto ele lá estiver.
Sei, que um dia pode não estar.E que pena ser assim, pois seria uma bela amizade.Eu nunca me vou esquecer do R.
Mas amanhã, levo-lhe uma flor.




(...E outra para o meu Pai.)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pai.








Nos últimos tempos, não tenho escrito sobre o meu Pai.
Talvez numa tentativa de o resguardar, de olhares mais alheios e ao seu sofrimento.
Mas, este blog, sempre foi um livro aberto, onde corro o risco de me expor, verdadeiramente.
E na vida, tenho para comigo, que só quem arrisca, consegue viver intensamente.

Hoje, estive com o meu pai largas horas.O que é raro, durante a semana, já ao fim de semana é mais comum.
Mas hoje, devido a uma troca de horário,consegui.
Pelo corredor do hospital ia eu e pensava no Pai do meu melhor amigo, que também se debate com o fim da sua vida, no mesmo hospital.Acabo de pensar nele, e olho para um dos quartos, e lá estava ele, sentado na beira da cama a ler o Jornal.Supreendente, estar no mesmo piso que o me pai.
Aproximei-me e estivemos cerca de meia hora á conversa.Levei uma lição, de alguém que sabe que lhe resta pouco tempo, de alguém que apesar disso, fala com esperança e um sorriso.Aceita simplesmente o seu destino, sem revolta, sem mágoa.Um exemplo.Recordámos muitas coisas, como as férias que fui com eles para o Gerês.Rimos.
Deixei-o e fui ter com o meu pai.Entrei no quarto a sorrir, e não o vi sorrir.Estranhei.
Abracei-o.E o seu rosto não deixa margem para dúvidas.O cansaço, a saturação de uma luta que sabe á partida que vai perder, é visivel.Ele pede paz.Ele não aguentará muito mais.A magreza aumenta, a cor pálida também.Mostrou-me os braços secos e disse que estava desidratado.Fui buscar creme e estive a massajar os braços.Mas isso não esconde, que aquele esqueleto, é o que resta de um gigante que um dia me carregou ao colo, me fez rir como ninguém, me ensinou a alegria e me fez sonhar muitas vezes, como criança que ainda é.
Por mais que tentasse, hoje ele estava em baixo e triste, consciente do seu estado.Esteve a oxigénio estes dias, no SO.Um serviço, confuso, onde as luzes nunca se apagam, mesmo de noite.Descansar ali é mentira.As camas acomulam-se nos corredores.E o barulho não pára a qualquer hora.Finalmente passou para uma enfermaria.Mais calma.
Hoje o meu pai, confundiu o meu primo ao telefone, com outra pessoa.Senti-o confuso.
Só depois do jantar, me vim embora, para me certeficar que comia a sopa, o peixe a que retirei as espinhas e a fruta.Come pouco.Muito, muito pouco.
Quando olhava para ele, sentia a sua exaustão.Para ajudar, a cama ao lado, tinha 4 visitas, quando podem entrar 2 apenas.Falavam alto, atendiam telemóveis.Uma feira.Um hospital é um lugar de repouso!

Doentes como o meu pai, deviam ter um fim calmo, num local calmo.Se pudesse leváva-o para uma grande janela, em frente ao mar.Para poder olhar, com espaço.Ou melhor ainda, para uma planície alentejana, num monte, que ele tanto Ama.E ali, o vento ia ondear os campos e ele ia sorrir.
Mas não sei, quando, nem como, será a sua partida?Sei que queria estar ao lado dele.
E o meu medo, está aí.Somente.Não conseguir chegar a tempo.
Quando me despedi, disse-me ainda: "Não te preocupes, que eu estou e fico bem".
Mas eu sei que não.Sei que as dores são muitas e que ele nem sempre se queixa.Sei que pensa no futuro e não sabe como eu acredito que será risonho.Eu confio sempre.

Hoje vou dormir assim, com o coração pequenino e um turbilhão de sentimentos.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Era um dia de sol...




...que me chamou para a rua.Tu vieste comigo.
Sentados de frente para essa estrela que nos aquece...viajámos por todos os locais onde andámos.
Um mês de distância, traz consigo, muitas coisas para contar...aventuras, peripécias, sentimentos e o cenário de hoje,era perfeito.Um rio calmo, um sol que brilhou intenso e se pôs, vermelho.
A agitação e o vai e vém das pessoas que caminhavam lentamente, viradas para o sol...misturava-se com o lançar da cana, dos pescadores que estavam por ali.De vez em quando, saltava no ar, algo prateado que se movia frenéticamente, peixes minúsculos, mas que são o pretexto para um pedaço de paz em frente ao rio.
Não importa se levam ou não o balde cheio no fim, se os vão comer, importa sim a paz.Parar.Absorver.Observar.E a esperança de lançar uma e outra vez aquela cana ao rio.

Com o sol posto, refugiámo-nos para uma bebida quente e os sabores de Belém.

O caminho, sem saber bem como, conduziu-nos a "casa".
Aquela que é sempre a casa de quem lá entrar.
Numa outra viagem, pela história de alguém, voltámos a entrar e a perceber como se dá o milagre da vida, o milagre que só nós podemos permitir que aconteça.E de como tudo é bem melhor, na luz.

Rostos, partilhas, saudades que tinha de alguns.A união, faz a força.
Amanhã partem para os Pirinéus, vidas, ao encontro de outras vidas.A tentação de partir é sempre grande, mas a minha comunidade tal como o meu Haiti,neste momento, chama-se PAI.
Um dia eu irei.

Volto a casa, com este sol ainda dentro de mim.
Ainda a cheirar a porto...e a rio.
Obrigado Duarte, P.Álvaro, anónimos que por mim passaram e compuseram esta tela.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Já não me lembrava de um sol assim...desde...









O dia acordou(-me) assim!
Cheio de sol!
Ontem pedi um céu cheio de estrelas, e hoje brilha a estrela rei.
Estou cheia de vontade de sair e ir apanhar esta luz.
Bom Domingo.
Céu.






Hoje, queria um céu assim, repleto de luzinhas, que brilhassem só para mim...sem nuvens.Sem chuva.Como os muitos que comtemplei por mil aventuras vividas.
Ás vezes até passavam estrelas cadentes e eu achava que era um sinal.E era.

Vou dormir...e que bom, amanhã ainda é Domingo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Imagens soltas de Poznan


Porque entre partir e ficar, eu hei-de escolher sempre partir.

Ayo-Only you

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010


 Haiti









Todos os dias,quando chego a casa, fico colada ao sofá, dormente, enquanto as imagens do Haiti, me entram pela vida dentro, assim...e eu ali.Já me emocionei várias vezes.Já senti vontade de ir para lá, embora saiba que devo deixar neste momento esse papel, para os que estão preparados para o fazer.
Trata-se de reconstruir, de pacificar, de salvar.







 


O haiti, vai precisar de ajuda durante muito tempo, e sempre precisou.Dos mais pobres do mundo, este país, foi abanado desta forma.E com ele, todo o mundo abanou.Pelo menos as consciências.
No meio de tanta destruição e gigantesco sofrimento,há algo que não posso deixar de olhar,porque me toca, o mundo ainda se sabe e consegue unir, perante uma catástrofe...e de todos os países, chega ajuda.Cada um com os meios que tem, acorreu ao local, para salvar vidas humanas, que já não tinham muito e agora ficam sem nada, restando-lhes apenas a esperança de uma amanhã melhor.
Penso muitas vezes no Haiti, e talvez um dia o meu caminho passe por ali, para dar a minha mão, nessa reconstrução que tanto se anseia.Onde essa mão é precisa e não desperdiçada.
Por agora rezo.
O nosso caminho passa, por onde nós quisermos e sentirmos que seremos úteis.



É triste afirmar, mas é a verdade; se nada for feito para dar a este povo uma chance de sobrevivência com o mínimo de dignidade, esta tragédia natural será em breve considerada como leve e de pouco efeito e com certeza isso vai-se reflectir em várias nações.
E nós não seremos excepção.
Porque quando uma borboleta bate as asas aqui, há um terramoto no outro lado do mundo.Nada nos exclui de nada.Mesmo que continuemos a ter todos os dias o que comer, onde dormir, e o que vestir, conforto, caprichos... e o Haiti, seja apenas as imagens da Tv, que não deixam passar o cheiro a morte, isto ainda e sempre nos afectará.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O 1º dia de 2010, longo, cheio e feliz.De poznan a Lyon.







O 1º dia do ano, foi para mim, tão cheio de diferentes emoções...que nem sei por onde começar.
Teve a surpresa das tradições Polacas,alegria pela casa, pelas ruas, dentro de nós pelo dia em si e por tudo o que tinhamos vivido ali, gratidão por tudo o que nesta familía nos deram, sem nos conhecerem de lado nenhum, agitação para chegar a horas a todos os compromissos, uma alegria universal em desejar bom ano em todas as línguas e a toda a gente, que se abraçava sem mais porquês,o sabor da despedida.Ver a Polónia a ficar para trás, metro a metro, Km a Km.Tudo isto num só dia.

Lembro-me de acordar e sentir o cheiro a comida, que vinha do forno...e sentir a agitação pela casa...enquanto nós descansávamos um pouco mais, dos dias do encontro.Quando me levantei, e afastei a cortina, deparei-me com um cenário maravilhoso, a neve cobria a cidade...tinha nevado, toda a noite.Deixei-me ficar por uns minutos a comtemplar aquela imagem.Logo a seguir, vi em cima da mesa, um desenho com o meu nome...guardei-o e sorri.

Depois da missa de ano novo, foram as despedidas, pois nesse mesmo dia pela noite, partiriamos para Portugal.As despedidas do encontro, nunca são verdadeiras despedidas, pois sabemos á partida que nos voltaremos a encontrar em Taizé, ou num próximo encontro...e essa confiança, torna tudo mais leve, embora algumas pessoas, marquem de forma mais profunda, pelo testemunho que nos passam.
O almoço, foi o momento mais forte da nossa estadia em casa da Família.Perceber as suas tradições e costumes...o que os une e alegra, o que os marca de bom e de mau, e poder fazer parte disso tudo, por momentos é especial.Durante o almoço, oferecemos coisas de Portugal, Vinho do Porto, cd's de Amália, frutos secos.Em retribuição eles fizeram-nos beber Vodka, com 40% de alcool,eu ia morrendo queimada, fiz uma cara que deve ter metido muita graça, pois todos se riram imenso, não sei como aguentam? No fim de almoço, a parte mais dura, despedir-me de todos, deixar aquela casa...e aquele menino de 10 anos, que nos acolheu pela primeira vez, com olhos brilhantes.Excusado será dizer, que todos desceram para nos acompanhar e tivemos direito a uma música de despedida, ao som de corneta.Não contive as lágrimas, que hoje são sorrisos, quando penso no carinho que recebi e que pude dar.
A tarde seguiu, com um testemunho que me pediram, para os Portugueses, acerca da minha experiência com a adversidade.Pouca ou muita, boa ou má, é a minha.E foi isso que partilhei.
Seguimos para o nosso trabalho, a distribuição das refeições, que foi neste primeiro dia do ano ainda mais especial.
A oração da noite, a última para nós, foi forte.Muitas coisas no coração, desejos e projectos para o novo Ano,e estou certa, que terei a força suficiente para os alcançar.
E a hora de partir, estava mesmo a chegar, 22h, o autocarro, partia.Pelo meio do gelo, carregamos as nossas malas e em menos de nada, tinhamos voltado aos Km que ficam para trás.
Os primeiros instantes, senão horas, depois de me acomodar e arrumar tudo, foram de silêncio.Era assim que queria estar, a sós com os meus pensamentos, apercebendo-me de tudo o que tinha tocado estes dias.Soube-me bem.Depois, sim, foi tempo para rever todos os outros, saber as suas histórias e experiências.A viagem, de uma noite e meio dia até Lyon, foi cansativa, mas a força com que se sai de um encontro, ajuda-nos, neste ou em qualquer caminho.
É essa força que procuro agora , manter e transmitir.Tarefa muito difícil, mas não impossivel.
Boa caminhada.













Lyon 2 de Janeiro