domingo, 31 de maio de 2009

Gnoma.





Porque há amores perfeitos!




















































Porque contigo os espaços ganham novos fôlegos e os passos também.
Porque conheces as minhas misérias e também os meus dons e cores como poucos neste mundo.
A tua presença traz sempre encanto e uma força que renasce sempre cada vez mais forte.
Sentamo-nos debaixo de uma árvore, e a sua sombra é tão poderosa como um raio de sol.
As palavras fluem, os sorrisos e olhares são por si palavras não proferidas, mas inscritas na alma para sempre, que se lêem tão bem.
Ontem, o dia foi para relembrar e voltar á presença uma da outra...para constatar a realidade dura e olhar para o futuro com confiança.Fazia tempo que não nos víamos.Mas nada mudou.Há coisas que nunca mudam.O mundo gira e gira apesar disso.
O teu abraço foi vida.
O teu olhar, vê,muito além do que quase todos vêem.
Cozinhar juntas, desesperar juntas, chorar juntas mas sobretudo rir, rir muito como nós não conseguimos não o fazer.É mais forte.
Tantos,locais, pessoas, aventuras...mas os anos não parecem passar por nós.
A alegria é a mesma, e o mundo espera sempre por nós, com uma bagageira cheia de tralha e estrada a não ter fim, todas as direcções serve bem para nós!ahahahha.
Como foi bom ver o sorriso do meu pai, quando te viu...depois de te esconderes atrás de mim.
Só por aquele sorriso valeu a pena, tudo.
Não esqueço as tuas lágrimas, quando te despediste dele, e ele te disse que sim que voltaria a cozinhar aqueles pratos para nós...como só ele sabe.Porque lhes punha amor.E isso muda o sabor das coisas.Relembro as manhãs preguiçosas no meu quarto, e a ida para a mesa em pijama e sem lavar a cara...eras e serás sempre da casa.
Agora já o dia te leva a caminho do Porto e eu volto a ficar em Lisboa, até ao dia em que me meto no comboio e vou ao teu encontro...assim que esta luta terminar e eu puder respirar fundo.
Porque há pessoas eternas e amores perfeitos também.



sexta-feira, 29 de maio de 2009




O meu coração...












"Eu adoro todas as coisas.
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite."



Álvaro de Campos












E isso é bom, mas também pode ser mau.

Não?

Metáfora bonita, esta do albergue...mas pena algumas portas custarem tanto a abrir, enferrujaram com o tempo...nada que não se resolva.

Afinal é neste coração albergue que nasce a fantasia.

E amanhã por aí a baixo vem a minha gnoma, a Clarinha.
Que saudades.
Vai ser muita conversa e muito sol...a amenizar a minha dor.
Até já!




Pai,pai,pai,pai,pai...

















A minha ida ao Hospital hoje foi uma aventura.Primeiro para chegar,depois para entrar e no fim como tive de sair.

Cheguei tarde.Mas mesmo assim fui, sabendo que corria o risco de não o ver.Não me queriam deixar entrar, eram 19h35, por 5 min.Olhei para o segurança muito séria e disse, olhe faça como quiser, mas eu vou entrar de qualquer maneira.



Ele deixou.Acho que o intimidei não sei como?Talvez por saber que nada neste mundo me pode impedir de estar com o meu pai, no estado em que ele está.Sei que regras são regras, mas hoje mandei-as á fava.A vida fala mais alto do que tudo isso,ou não?



Subi, ia com o coração apertado, porque ontem ele não estava muito bem.Quando me abeirei da porta do quarto, encontrei o meu pai, prostrado, os olhos fechados, com ferro a correr para a veia, e muitos sacos a sair da barriga.Abriu os olhos, mal falou, sentei-me depois do beijo de sempre, pelo qual espero, o dia inteiro.Hoje custou vê-lo assim, hoje fez dor ao olhar.



Sei que não dormiu bem, estava com os olhos inchados e ar exausto.Daí a 30 min, ia fazer uma transfusão de sangue, para ganhar forças.



Hoje, pelo que me disse, recusou fazer fisioterapia porque não tinha forças.



Já tinha jantado pouco, foi a auxiliar que lhe deu o jantar.Depois, deixei-o dormir, descansar, e permaneci ali mais 10 min, de mão dada com ele, a olhar para ele e a sentir, que cada vez o vejo pior...mais fraco, mais longe da vida, do mundo.

Mas não de mim.



Sei que de uma forma ou de outra, estamos e estaremos juntos, numa ligação bela que nunca ninguém poderá romper, afinal, pai é pai.



E um pai como este...





(Acabei por ter que descer, mais cedo, porque o senhor da cama do lado, pediu para entregar um cheque á filha que estava no átrio, pois não pode subir, e eu como nunca deixo de ajudar e vi a aflição deles, já não me deixaram subir de novo...)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A vida também é feita de partidas... e ausências.








(Eu, no passado...)






Recebi um email hoje, a relembrar que...

Faz hoje,anos que um acidente de mota te tirou a vida.


Colega de turma, amigo, uma das primeiras paixões e de quem não nos esquecemos.


Não tenho nenhuma fotografia tua, apenas minha desse tempo.


Para o Nuno, onde quer que esteja.







Eu tinha uma mochila da Monte Campo e um casaco Encarnado. Usava o cabelo muito comprido e encaracolado, preso com dois ganchos e esperava na entrada da escola para te ver chegar.

Tu vinhas de Vespa, preta como o teu capacete. Guardava sempre o meu melhor sorriso para quando tiravas esse capacete e, sacudindo o teu cabelo louro, olhavas para mim. Sabias que eu estava ali mesmo antes de parares, e vinhas sempre dizer-me olá. Sabias também que eu o esperava.

Às vezes ia assistir aos treinos da equipa de volley da escola com alguma amiga e fingia que olhava para os outros rapazes mais velhos. Um dia a bola foi parar perto de mim e quando a foste buscar disseste-me "sei que é a mim que vens ver, porque não mo dizes?".A resposta foi uma careta a desdenhar a tua afirmação, e o rubor a surgir na minha face. "Não ligo a miúdos", disse, e tu piscaste-me o olho e sorriste, antes de voltar para o treino.

Cadernos pautados, livros e folhas quadriculadas faziam parte dos meus dias.Calças á boca de sino,sonhos e as fugas aos almoços horríveis na cantina da escola.As tardes de estudo, todos juntos na biblioteca, e os lanches de panikes, cheios de gordura e chocolate.Os Torneios de cartas nos intervalos das aulas adiados por conversas e brincadeiras.

Um dia Ficámos no mesmo grupo, para um trabalho de Português, o que provocou primeiro o teu riso mas depois uma surpresa com a qual eu não contava. A composição que tinha sido pedida era difícil e eu queria contar com a tua ajuda, além da tua companhia. E como me ajudou o teu sorriso, como me inspirou a tua pele morena, o teu fresco odor adolescente. Quando me beijaste perguntaste-me ao ouvido se eu já ligava a miúdos, e rimos ambos, um riso que por vezes ouço, um ricochete de felicidade nas paredes intemporais da vida adolescente.
Não sabia nessa altura que a primavera dura apenas um segundo.
Mostrei-te o trabalho final antes de o entregar, afinal tinha-o escrito por e para ti. Eu sabia que estava bom, mas o meu entusiasmo só apareceu depois de ver o teu. Não queria ter uma boa nota, nem queria louvores da professora, queria apenas contar-te a história mais bonita do mundo. Disseste-me que não deixasse de escrever nunca,porque escrevia bem.


Se tu soubesses, ainda hoje faço dançar a tinta negra de uma caneta, que desenha no papel formas do alfabeto e nessa dança aparecem as palavras que já lá estavam antes da tinta as revelar. Ainda hoje abro um ficheiro de Word e primo as teclas que comandam o aparecimento de caracteres nos cristais líquidos do écran. Ainda hoje, tanto tempo depois de teres desaparecido.

E sempre que o faço lembro-me das palavras que disseste nessa tarde antiga, lembro-me que um dia te quis contar a história mais bonita do mundo.


Um beijo cheio de saudades...


Pai







Não trago boas noticias.
Saí do trabalho, e passei na pastelaria, comprei uns pastéis de nata, quentinhos, ia feliz só de imaginar a cara dele ao comer um.
Entrei no quarto e encontrei o meu pai, com um ar esgotado...quase a dormir.
Suavemente, sentei-me ao seu lado e ele deu logo pela minha presença.E então pude dar-lhe um beijo.Perguntei como se sentia hoje, disse-me que não muito bem.Com dores.E a sua expressão mostrava isso mesmo.Ele está a tomar ferro, e isso provoca alguma paragem no trânsito intestinal, o que não permitiu que pudesse jantar.Reparei pelo saco transparente que a quantidade de pus na urina aumentou novamente.Mesmo com todos os antibióticos...
Um dia andamos um passo para a frente e outro recuamos.Ou não soubesse eu que é assim...
Mas custa.Ainda pediu uma massagem nas pernas e ginástica, tinha os pés inchados.Hoje com os fisioterapeutas conseguiu sentar-se algumas horas no cadeirão ao lado da cama, mas isso cansou-o muito, porque não tem força.Mas a intenção é boa, é que não fique parado sempre na mesma cama.
Enquanto me contava isto,consegui que comesse a laranja, algumas cerejas, e um pastel de nata.No fim água e este foi o seu jantar.
O coelho á caçador ficou no prato...a olhar para ele.
Reparei que estava adormecido e por isso a visita não durou muito hoje, foi ele que pediu para descansar.E assim fiz.
Vim embora.
Desejosa de chegar a casa como todos estes dias, onde me sinto sempre protegida e onde repouso de um dia cheio e das idas ao Hospital.
Tudo isto também desgasta...o corpo.O coração, esse, vai-se aguentando bem.~
Um banho, uma música que gosto, jantar e depois sento-me aqui com aquela sensação de dever cumprido e respirando calma,preparo-me para contar ao mundo, esta minha e esta nossa história.Da Rita e do seu Pai.
E como me alivia fazê-lo.
Até amanhã.



quarta-feira, 27 de maio de 2009


Pai, hoje sento-me contigo na Lua...




Cansada e pronta para aterrar num sono bom e profundo.No céu uma lua brilhante e fina, onde me sento hoje, bem alto para te ver dormir, Pai.
Os dias, correm e eu só penso na hora de chegar ao Hospital, e estar com o meu Pai mais um pouco.Ontem não consegui entrar, mas hoje eram 19h estava a chegar.E tudo porque um senhor caridoso, forçou a porta do comboio para eu entrar...ou tinha-o perdido e chegado muito mais tarde.
Assim que cheguei, foi fazer a Barba pois o jantar estava a chegar.Foi uma aventura, apenas com um copo de plástico e água quente...e espuma por todo o lado.
Ficou outro...outra cara, outra disposição.Ajuda muito, quando se está doente, que nos arranjemos e sintamos bem.
Estava o meu primo de Sesimbra, que lhe fez imensa ginástica ás pernas...pois ele está sempre na cama.Ele saiu e eu fiquei.
Depois foi dar-lhe o jantar e ficar na conversa com ele, mais uma massagem no braço, outra coisa aqui e ali...tudo, mas mesmo tudo para que fique bem.
Sentei-me por fim e deitei a cabeça na beira da cama, estava cansada e hoje estou muito.Estivemos a falar sobre tantas coisas, ora ele se emocionava, ora se ria...anda assim com picos, talvez não seja o único...
Deixei-o com um abraço longo e beijinhos na testa.
Lá fora o sol punha-se de forma bonita, e não hesitei em ir admirá-lo antes de entrar no elevador para regressar a casa...ali do 6º piso a vista é melhor, via os carros apressados na Ic 19, via as pessoas que deixavam o átrio do hospital...imaginava quantas vidas ali dentro a sofrer, outras a nascer...um mundo ali.O meu pai, ali.Eu, ali.
Pelas ruas da minha cidade, desertas, hora do lusco fusco, subia eu no meu passo calmo, tudo a recolher.E eu ali, caminhava na minha solidão de fim de dia, enquanto espreitava as janelas abertas das casas, onde uma e outra família, comia reunida á mesa...e isso fez-me pensar na minha família.Muito.
Eram 21h30 estava a entrar em casa, exausta.Corri para o banho e jantei.O computador não ligava nem por nada e por momentos pensei estar bem arranjada com isto, mas depois de muito tentar ás 22h30, ligou-se!
Na janela, vejo uma lua, fina e brilhante que me chama, e eu subo até ela, sento-me lá, contigo, Pai.Vamos ver o mundo esta noite...olha tantas luzinhas lá em baixo.
Boa noite.

I don't know...



I Don't Know from ATO Records on Vimeo

Palavras que guardei.












Acerca de um dia que já passou, em que choveu...e em que as palavras ficaram guardadas,num caderno de mala, mas não podem mais esperar.



Sejam elas livres...e gritem de si.





Os dias escuros abatem-se sobre esta cidade ás vezes, o dia na sua luz que resta é apenas a que, a espaços, surge entre os prédios. Com o entardecer, pouco a pouco, a chuva miudinha transforma-se em noite. Penso em ti, mas não estou contigo. Penso em ti e estou com outra pessoa, mas na minha mente és tu quem aparece, saído da prateada chuva vespertina, e sinto-te tão perto que consigo cheirar o teu perfume.


De quem é o corpo que toco? De quem é a respiração que ouço tão perto do meu ouvido? E este corpo procura-me, fala-me, pede-me que o tome e esqueça tudo o que está fora desta sala, que deixe que o passado caia no esquecimento de um beijo.


E então compreendo que a distância é um conceito que não é compreensível para mim. Sinto-te tão perto e estás tão longe, tenho-o aqui e sinto-o a mil milhas de mim. A vida expande-se silenciosamente para além das grandes janelas molhadas, e as leis da física não são mais do que enunciados teóricos diluídos nas gotas destas janelas. Gotas que passeiam a grande velocidade nos vidros, e desagregam em tons e formas o sorriso que vejo à minha frente e os braços que me cingem para criar o som de outro riso e a luz de outro olhar.


Observo o semblante que tenho diante de mim, e ouço as tuas palavras entrecortadas que me sussurram ainda, hoje só há duas coisas no mundo para mim, tu e a chuva. Não respondo e fecho os olhos, porque não sei mais o que fazer ou dizer.

A chuva impetuosa cai cada vez mais forte, como se acometesse por todas as partes, anulando todas as distâncias, e imagino os nossos corações tocando-se, nós sob um chapéu de chuva que mal nos protege da intempérie,ou mesmo á chuva saltando as poças de água numa rua qualquer. Saio para a rua e penso que só a chuva pode levar consigo o que trouxe, e só me resta esperar por dias de sol em que saiba aproveitar o que tenho ao alcance das minhas mãos.

As luzes dos candeeiros já se acendem e caminho sob a chuva crepuscular, cai a noite e apesar da escuridão e do frio este é para mim um doce entardecer, pois transformou-se na perfeição da tua lembrança.




Escrito no miradouro da Polux em Lisboa...

terça-feira, 26 de maio de 2009



Esta luz pequenina, vou deixá-la brilhar...












Atrasos e mais atrasos, comboios perdidos, passos lentos, os meus.Como ás vezes sinto saudades de andar depressa e correr.


Acabei por chegar ao hospital ás 19h40, e já não me deixaram subir.
A partir das 19h30, ninguém sobe...E por mais que implorasse, não recebi um sim.


Hoje, não vi o meu pai.Hoje ia fazer-lhe a barba.Não fiz.


Hoje durmo com o coração mais apertado.E sei que ele também.


Mas pelo que disse a minha mãe, ele está na mesma.Calmo.


Mas os meus olhos vêm coisas que a minha mãe não vê...e vêlo é sempre diferente.


Amanhã, vamos ver se consigo, esta semana a sair ás 18h, termina na sexta.
Se lá chegar, faço uma festa...


Agora, com a vossa licença, que vou a um banho, que já estou a precisar, depois jantar e sossegar.


Aqui no meu cantinho, onde me sinto tão segura...

Olhando atrás












Em algum momento conhecemos as pessoas que nos marcam para sempre, e quando sabemos que as vamos perder é como se gravássemos na memória o máximo de informação possível, para que nunca desapareçam verdadeiramente.


Depois vieram os copos, os brindes, as canções, as mentiras que dissemos entre todos... porque nestas ocasiões os amigos mentem acreditando que dizem a verdade. Com cada adeus a sensação é a mesma, passam meses e anos, e as noites são como poços de esperança de encontrar quem já passou, e as tardes nada mais que caminhos cheios de ausências.
Mas há que dormir nessas noites e caminhar nesses caminhos e encontrar a força nos abraços, e ter a certeza definitiva de que estivemos juntos alguma vez, cruzando esse mundo e sendo felizes.




Parallelostory



Parallelostory from impactist on Vimeo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Acordar











A claridade da luz na janela ofusca quase tudo, embora perceba pela claridade que hoje, não haverá sol.
É de manhã e o mundo parece tão pequeno como o reflexo de um lar.Do meu lar neste momento, mais vazio.
Na ardente atmosfera paira o último lume da noite anterior, como se a casa fosse impregnando na minha memória as reminiscências desse ainda fresco passado longínquo.
Esse brilho faz com que a manhã entre mais levemente, brinque com as sombras e cure a cegueira da escuridão.Um fio de luz vai semeando a esperança pelo meu quarto, ainda que dentro do meu coração a esperança pareça algo tão remoto, ela existe.
Vejo-me sentada na cama, como sempre faço depois de acordar, passando as mãos pela cara, despedindo o sereno sorriso que trouxe do sonho, sem memória da realidade, que chega agora.
Duas solidões ardem no lume que lentamente se esvanece.
Uma vem desde os recantos mais escuros do seu interior, pensa em alguém que está longe, no futuro que a cada dia se transforma num passado diferente do imaginado, as sombras de um fogo que se vai apagando na contraluz deste quarto. Outra que sonha com coisas que ama, e no horizonte teima em ver as "ilusões" que ainda virão.
Imagino este acordar em frente ao mar...e com sol.
Uma canção para despertar ou embalar é sussurrada a contraluz, a luz que se distingue na distância, tentando romper em vão a escuridão da noite imensa que passou.





Mais um dia, por ti.

(No alentejo, Outubro de 2008)








Hoje, saí de casa a correr, adormeci.


Fiquei sem bateria no telemóvel.


Não tive a hora de almoço completa.


Corri, para chegar a tempo á visita, pois para além de ter que fazer a barba ao meu pai, o Pe.Alberto ia estar com ele.


Cheguei em cima do jantar, que é as 19h, e por isso ele como estava a jantar, já não quis fazer a barba hoje, ficará para amanhã.Não gosto de o ver assim, mas sim com a cara limpa e bem tratada, não é por estar numa cama que vou deixar de o fazer.


Sei que hoje recebeu a visita da Ana Maria, uma amiga, que está a trabalhar no serviço, esteve a falar com ele e a animá-lo.Obrigado Ana.


Entre uma colher de sopa e outra que dava ao meu pai, reparei na enfermeira que ficou muito séria a olhar para mim, e eu para ele, era a Filipa, que foi comigo a Roma, no ano 2000, ficámos muito admiradas, por nos vermos ali, quando percebeu que era o meu pai, a sua expressão mudou, ela ia ficar esta noite com o meu pai.Assim que pode chamou-me á parte e estivemos a falar um bocadinho.Aquilo que lhe disse, ela confirmou.Que as coisas estão numa fase muito delicada, que o tumor não cede e pressiona a bexiga, o que vai acabar por rebentar por algum lado.As defesas são quase nulas, qualquer coisa lhe pode fazer mal.Adverteu-me ainda para o facto de quando ele começar a ficar agitado, sem saber o que diz, e onde está, coisas sem nexo, nos mentalizar-mos que chegou a hora.E disto eu não sabia.


Foi bom falar com ela, ainda que de lágrimas nos olhos, e com o coração apertadinho, eu ouvi tudo o que no fundo já sabia.Mas ouvir da boca de alguém que conhecemos, é diferente.É mais uma confirmação para aquilo que não se quer, não se deseja, mas vai inevitavelmente acontecer.


Tenho encontrado as pessoas certas, nas horas certas.


O Pe.Alberto, acabou por conseguir subir, mesmo depois das 19h30, e o meu pai quando o viu, ficou muito contente, e perguntou logo: " Trouxe aquilo?".


Aquilo, era a comunhão e a extrema Unção, que quis receber.Também se confessou.


Chorou.Fez-lhe bem e ficou em paz.


Que mais posso eu fazer por ti, Pai?Não quero pensar, no medo que te habita, sabendo tu que a tua vida, está perto do fim, que pensamentos e sentimentos isso provoca em ti.Mas sei bem que sentimentos provoca em mim.E se soubesses a dor que me acompanha, mas ao mesmo tempo uma força que não explico que me diz que nunca te vou perder.Deve ser muito doloroso, ver todos os que amas, á tua volta.Mas confia, que a tua hora será leve e sem dor.


Por isso tenho pedido a Deus, a todo o instante.


E que te acolha no seu reino agora e para sempre.


Por agora, deixo o teu sorriso, o teu apetite, e a tua boa energia...a partilhar com muitos.Pela vida fora.



Até amanhã.



Partir...









A vontade de partir vive dentro de mim, apenas à espera da madrugada em que tudo volte a ser novo e desconhecido. À espera daquele frio no estômago e do suor na palma das mãos, sabendo que a minha vida cabe dentro de um par de malas e, não tendo mais nada, tenho tudo...




Pai







Depois de uma noite de Sábado em que procurei espairecer, o Domingo adivinhava-se agitado.
Muita gente para ver o meu pai, e ainda a ida ao Telhal, que não dispenso.
Guardei a visita para o fim da tarde, e fui primeiro ao Telhal.Hoje tivemos a companhia do Jorge, que animou muito a tarde.Fez toda a diferença.A sua boa energia, bom feeling, deixou os doentes animados.Espero que ele comece a ir também aos Domingos.
Depois, o pe.Alberto, decidiu ir comigo visitar o meu pai.Foi um momento muito forte, para todos.
Chegámos ao fim da tarde, quando tudo está mais calmo.Lá estava o meu pai, num quarto duplo, com televisão, mais calmo, com o tabuleiro do jantar, pronto para começar a comer.Assim aproveitei dei-lhe o jantar e comeu bem.
Quando nos viu ficou contente, pensava que já não receberia mais visitas, e conheceu finalmente, o Pe.Alberto, que é também um amigo, que tem estado perto muitas e muitas vezes.Emocionou-se e sentiu sem dúvida a presença de Deus, ali, porque pediu a comunhão e para se confessar, mas não naquele dia, pois estava cansado com tantas visitas.
Assim amanhã, ao fim da tarde lá estaremos, para que receba a paz de espírito e possa saciar essa sede de Deus...que sinto ser grande.
E isto só acontece, porque felizmente, tenho a sorte de conhecer um Padre que é tão próximo e disponível, que se faz presente e se coloca dentro das nossas vidas.Assim, como hoje.
Saímos eram 20h, depois de o deixar mudado e deitado, pronto para dormir.
Lá ficou, fraco e agarrado aquela cama, mas vivo.
O meu pai.

sábado, 23 de maio de 2009


Visita



Hoje, atrasaram a visita 15 min, portanto estive com ele 45 min, não é justo roubarem-nos tempo...com os nossos.
A visita apesar de mais curta correu bem, trago a boa notícia de que vai ser transferido para a enfermaria ainda hoje, embora tenha que continuar a antibióticos mais dias e que a cama vai ser a sua companheira mais fiel nestes próximos tempos.Por assim dizer, da cama já não sai.
Continua fraco, um pouco amarelo e sem força nas pernas e no braço.
Este tipo de infecção é recorrente e ele tem a bexiga sobre pressão, o que faz com que mais tarde ou mais cedo ela volte, segundo a médica que estava lá hoje, as coisas não estão bem, mas um dia de cada vez.
No entanto, é uma esperançazinha que se abre em nós.E renova energias.
Dei-lhe o jantar, que era peixe, e levei uns morangos fresquinhos que lhe souberam muito bem.
Tivemos á conversa, e mandei os abraços de toda a gente, que tem ligado e se tem preocupado.
Agora poderemos vê-lo, das 12h ás 20h todos os dias.E eu a sair ás 18h esta semana ainda, não sei como vai ser a correria...mas irei todos os dias.
Amanhã vem a família de mais longe, agora que recebe visitas...
Dei-lhe muitos abraços e beijinhos na testa, que o fez rir, porque eram repenicados e toda a gente ficou a olhar, para nós.
Foi tão bom estar ali, saber que confia em mim, que me pede as coisas como só ele sabe fazer.
Deixei-o a sorrir.
Venho com paz.
Obrigado Pai.

Parabéns Noémia!









Gosto muito de ti.
Porque te deixas abraçar por todos nós...e conduzes tantos jovens a fazer do mundo um lugar melhor.Porque é bom ter-te nas nossas vidas.
Obrigado.


Today, I'm on your side...












Acordei tarde dormi 11h, seguidas, estava a precisar de descansar.Adormeci ontem com o som da chuva na janela, e a luz do corredor acesa.

Tem sido agitação atrás de agitação.

O meu pai, continua nos cuidados intensivos, mas a infecção parece querer ceder.

Ontem não o vi.Tem que ser á vez.

E pensar também naqueles que o viram menos vezes ultimamente, e estiveram menos tempo com ele.Dar-lhes a vez...não para que remedeiem o tempo perdido mas para que possam dizer o que ainda podem querer dizer.

Hoje a visita das 19h é minha e vou preparar o meu coração para estar com ele.

Hoje vou caminhar numa praia qualquer, e respirar fundo...pensar em tanto.Depois lá estarei para lhe dar o jantar, e conversar.

Acho que lhe vou levar um bolinho, se me deixarem...

Os dias passam, mas algo os prende...não sei explicar.
A cabeça anda a 1000 com tantos pensamentos e coisas para dizer, que um dia direi.No tempo certo.



Um bom resto de fim de semana.

Aproveitem a presença do vosso pai...nas vossas vidas.



sexta-feira, 22 de maio de 2009

Será assim?

Last Day Dream [HD] from Chris Milk on Vimeo.

Terás coisas muito boas para ver...sim!



Evangelho segundo S. João 16,20-23.


"Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria! A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque chegou a sua hora; mas, quando deu à luz o menino, já não se lembra da sua aflição, com a alegria de ter vindo um homem ao mundo. Também vós vos sentis agora tristes, mas Eu hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará."


Da Bíblia Sagrada

Nas tuas mãos Pai, entrego o meu Espírito












Entro em casa, nesta noite fria, e não te encontro na cama.Nem te oiço chamar:"Rita...", nem sinto a tua televisão ligada no quarto, nem o teu cheiro.Não vou perguntar-te se queres comer alguma coisa, ou beber?

Silêncio.

Deixei-te no hospital, nos cuidados intensivos, ligado a máquinas, a mil e um tubos...mas consciente.Olhos fixos nos meus, sérios, longe dali...mas despertos.Quando me viste entrar, a sorrir, os teus olhos fixaram-me.Entre tantos, não eras apenas mais um, eras o meu pai e por isso te reconheci...tudo em ti, me é familiar, as rugas do rosto, a forma de estar deitado...tudo.

Dão-me uma hora para estar contigo...e eu pergunto-me, uma hora?

O que é isso, para alguém que tem tanto para dizer a abraçar, como eu a ti.

O que é isso, dignidade?Tempo,para nos despedirmos?

Não chega...não chegou.Dei comigo a pensar, e se esta for a última vez que te vejo?Isso é tão redutor...tão sofucante e doloroso.

Vejo passar o médico vestido de azul, chamo-o, e falamos.É muito claro, a infecção alastrou a todo o corpo, os rins mal funcionam e o fígado não filtra nada.Aos poucos tudo começa a parar...e a dar sinal de que chegou talvez a hora de dar descanso a um corpo cansado e mal tratado pela doença, mas também, descanso a uma alma sedenta de Paz.

E essa paz tu terás, Deus conhece-te muito bem, sabe de tudo...não te preocupes.



Não sei como vai ser esta noite?

Espero o dia e espero vê-lo mais uma vez.



Obrigado do fundo do coração, a todos os que se fazem presentes, nesta hora, mas principalmente aos que estão mesmo a toda a hora.



quinta-feira, 21 de maio de 2009

Aceitando...












Hoje, foi um dia renovador.

Não me perguntem porquê...mas é que a seguir a um dia muito mau, consigo viver sempre um muito bom.Assim, sem mais.Não permaneço caída muito tempo...não me detenho no que me dói, mas dói sempre.

As coisas, doem naquele instante e sei que vão doer no futuro...mas cada dia é diferente.E nesse dia há algo bom, precioso que me recuso a perder.

Hoje, saí de casa, com vontade de me embrenhar na multidão e sorrir, portanto, foi o que aconteceu.Olhava para as pessoas, e elas para mim, e elas não sabem o que estou a viver.Nem eu sei delas.Mas andamos ali, todos juntos, no Mundo.

Comboio cheio e eu sem MP3, mas não foi o fim.Já que cheguei a casa, e despejei todas as músicas que tinha lá e me lembravam, Paris e a Escócia e até Bruxelas.Lugares, palavras, viagens.Agora novos álbuns e sons, vou descobrir...e deixar-me levar!Agora tocará, a voz de Maria Mena, Rosie Thomas e Vienna Teng...sons serenos.

Hora de almoço com muito sol a encher-me de luz...já que esta semana e a próxima trabalho até ás 18h...logo agora que o meu pai precisa tanto.

O sol alimentou-me.O dia azul.O calor.As pessoas em mangas de camisa, com pastas e com carrinhos de bebés...com os cães, a ler o jornal, tudo se move.A vida não pára.Embora sinta que por aqui abrandou tanto.
E recordo as palavras de alguém pela manhã:



"Renasce novamente a esperança.Alimentam-se as horas.Seguem os sonhos.Cruzam-se caminhos.Na verdade o mundo será sempre pequeno para cada um de nós..."

Aos poucos aceito o rumo natural das coisas, mesmo que isso vá significar viver sem esta presença amorosa, que é a do meu Pai.

Preparo por estes dias o meu coração...cada vez que o oiço dizer que o sente o seu corpo a ir-se, também o meu coração abre um buraco...cada vez mais fundo.

Não antecipo nada, apenas sei que gostava que este momento fosse vivido com serenidade.

Ainda que com muita dor e tristeza.Mas estar triste não é estar agitado.

Penso por estes dias em tantas coisas...e tenho tantas perguntas na minha cabeça.

Amanhã é outro dia...

Sim.



quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sorrir...apesar de...

Imagens que alguém me mandou, da sua missão,para me despontar um sorriso...

Porque eles, nada têm, sofrem muito e com muito pouco se alegram...

Como posso eu não me alegrar...mesmo perante o meu sofrimento, a vida é sempre um milagre...

Obrigado Jp!

Do fundo de mim.

segunda-feira, 18 de maio de 2009


Breves e aflitivos 20 minutos.



21h38-O meu pai, levantou-se da cama, e deu 3 passos para a cadeira, que fica ao lado.Não chegou lá.
Caiu sem forças.Eu e a minha mãe tentamos reanimá-lo, mas sem efeito.
No espaço de 20 minutos, o meu pai desmaiou, esteve 7 minutos inconsciente, chamei o 112, eles vieram.Na espera o meu pai acordou e estive sempre com ele nos meus braços.A chamar por ele, e a passar-lhe a mão pelo rosto.
Entretanto chegaram, 10 minutos depois do telefonema.
Mediram a tensão, viram os batimentos cardíacos, colocaram-no de novo na cama.Falaram com ele, mas ele não quis ir ao Hospital.Tudo o que ele quer é distância das urgências.Como eu o compreendo.
Foram embora e eu fiquei com a minha mãe com as pernas a tremer e com o coração apertado.
Ficou de novo no seu lugar de há 5 dias, na cama,de onde me pergunto se voltará a sair?
As coisas evoluem, de uma forma vertiginosa.E eu fico, num sofrimento que ninguém pode entender ou abarcar.Pertence-me.É tão meu e partilhado apenas com a minha mãe.Nós que cuidamos dele.Ele, que é o nosso centro há muito tempo.
Da minha irmã nem se ouve falar...e eu pergunto-me como é capaz?
E nem imagino, o que sentirá o meu pai?Abandono?
Eu sinto-me numa grande montanha russa de emoções, uns dias de muita alegria, outros em que acontecem coisas como esta, para me lembrar que a vida é muito frágil mesmo.
Estes momentos não se podem partilhar com ninguém.São da família, onde quer que ela esteja.
Só eu sei o que senti quando vi o meu pai desfalecer...pensei o pior, senti o peso do seu corpo fraco...senti talvez o futuro próximo.
Obrigado Deus por cuidares dele.E de mim.


Domingo.




E domingo sim, não me enganei e há hora marcada lá estava, o dia da bênção...foi um dia muito feliz, para a Catarina e para todos aqueles que gostam dela.

Ficam os registos.














Um brinde da Juventude Hospitaleira!









A Liliana...eu e as abóboras mágicas!





As meninas JH!







As manas, Susana e Sara!






A minha fita...para a Catarina!







A minha Madrinha de Curso, a Raquel, encontrei-a depois de alguns anos...neste dia!
Eu nem queria acreditar...






Bom, depois fomos para o recinto, onde seria a bênção, onde estivemos a torrar ao sol, durante mais de 2h, á espera que começasse.









Enquanto isso, o Bruno tirava as fotos e nós fazíamos a síntese!isso deu FOTO SÍNTESE!










No meio de tantas pessoas, vimos a Catarina e gritámos como se não houvesse amanhã!








Enquanto se esperava, uma tuna deu cor aquele momento, encantando-nos com as suas vozes!








Obrigado por este dia, em vi tantos rostos, que já conhecia, apenas de a ouvir falar.Pude reconhecê-los e sentir o amor que lhes tens.Catarina!


E pelo meio da tarde, viemos embora, felizes, por este momento.
Porque sabemos tudo o que a Catarina tem lutado, pelos outros, mais do que por ela.Sabemos da pessoa especial que temos a sorte de ter tocado as nossas vidas.




Domingo Fim da Tarde.
O fim do Domingo, foi passado no Telhal.
Depois de Santarém, o caminho mais rápido levou-nos lá...com muita vontade.
E quem me descobre sempre é o Deodato...tem um radar!Sabe sempre onde estou.






A alegria de chegar...



O Luís e o Juce!



Mãos nas mãos...



Hora de deitar...
Até amanhã Telhal...






Foi um dia diferente, este no Telhal.
Diferente porque desde a Páscoa, que nunca me tinha apercebido de certas coisas, sentia-me um pouco desorientada, pois a unidade está numa fase de transição de doentes e há coisas que ainda não correm sobre rodas.Mas só o tempo.
Sei que não posso sozinha mudar nada.Apoderou-se de mim um sentimento de impotência, enorme, e isso acomulado com o dia agitado, com tudo o que tenho na cabeça...ultimamente, foi motivo para pensar muito.Há tantas coisas que nós não controlamos, nunca vamos compreender...
Mas continuo a fazer a minha missão e ir para estar com eles, e só isso já vai sendo qualquer coisa.
E gosto tanto deles.