terça-feira, 26 de março de 2013

Partiu a Ir.Ferreira...





Há hoje no Céu de Lichinga uma ESTRELA que brilha mais.
Sempre tive medo que este dia...chegasse.Era eminente.Mas ao mesmo tempo, ela levava tudo com tanta coragem, que nos fazia esquecer que estava muito doente.Uma leucemia...de muitos anos.
O que a mantinha viva, era o projeto...eram os meninos e a machamba.Dizia.No dia em que parasse...morria.

Relembro o cantinho da Solidariedade, a sua Machamba,e loja, que alimentava mais de 150 famílias, que dava emprego a muita gente.Uma obra maravilhosa, que eu tive o prazer de ver, participar e sentir...um dia voltarei, quem sabe para fazer o que ainda falta...
Na porta da escola os meninos gritavam Ir.Ferreira...Ir.Ferreira...!!!

Conduzia a sua carrinha velha, pela cidade, para trás e para a frente.Era comum, carregar crianças, velhotes que lhe pediam boleia...galinhas,legumes...da sua machamba...e no seu jeito atarefado ia colmatando as necessidades de muitos.
O carro por dentro era um mundo, listas... pedaços de coisas...e vontade.Vontade de ajudar, quem nada tinha.
Era um prazer girar com ela, pela cidade e sentir a vida que ela tinha.
Mesmo doente...ia indo.E mesmo que eu temesse um dia a sua partida...esse dia era distante.6 meses depois de deixar a minha Lichinga, ela partiu.Hoje.

Ela era o rosto de Cristo...na terra.Aquela cidade nunca mais foi a mesma.Viveu 44 anos em Moçambique.Disse, quero morrer e ficar aqui.Assim se cumpriu.
Descansa em paz...querida Mana.
Obrigado por tudo o que me ensinaste...



domingo, 24 de março de 2013

By the moment...Luanda-Lisbon

















Algumas vezes pensei se não seria loucura da minha parte meter-me num avião para o outro lado do mundo nestas condições. Ainda hoje penso que foi loucura da minha parte ter-me metido no avião nestas condições. Mas nunca dei parte de fraca, isso teria sido a morte dos meus sonhos, sobretudo se tivesse vacilado perante a mim mesma, que nunca tive medo das oportunidades... Só falei dos meus medos aos meus melhores amigos (sim, meus queridos amigos), que me responderam simplesmente, que onde quer que fosse eu seria feliz!E pronto, com esta me fui, lá fiz das tripas coração, arregacei as mangas e fiz-me ao caminho.



De momento, a minha vida gira em torno de duas cidades...e vou dividir-me entre elas...nos próximos meses.
Podem entrar ainda outras cidades, neste vai e vem, mas para já  Luanda e Lisboa (Cascais).
As 8h que separam estas duas cidades, dão-me tempo para pensar...e organizar ideias.Para sonhar o futuro e os planos que entretanto foram nascendo dentro de mim.Eles vão acontecer.
Enquanto isso não chega existe um caminho...a trilhar.
Os últimos meses não tenho parado.
O mundo, é o palco onde me movo.


Em Luanda... 

Ando de motorista para todo o lado.E minha segurança  essa não a sinto em risco em momento algum.

Já criei alguns laços ainda que muito ténues, os que comigo convivem diariamente...e que aos poucos me foram mostrando, como tudo funciona.São eles que me fazem sorrir todos os dias e com quem partilho tudo.

 tive a oportunidade de constatar a disparidade social...que se afirma de forma exuberante.E isto é o que mais me custa.Luanda cresce a olhos vistos.

 senti um calor de morte...e apanhei uma grande molha de uma chuva tropical.

 fui picada por um mosquito no pé  mas que felizmente não tinha paludismo.

 ouvi historias da guerra e de amor...de gente forte que sobreviveu e lutou.Gente cansada e humilde que me dá o exemplo.

 senti o cheiro e o sabor de um continente que amo, novamente.Aprendi a comer a comida Angolana.

Tenho 2 quartos, onde repousar a km e km,um do outro...e vou cada vez menos ao meu verdadeiro quarto.Talvez seja o tempo de o deixar de vez.

Ouvi os meninos dizer tata, caminhei por um mercado de rua...e encontrei uma linda menina jogada no meio de sapatos velhos, que como um sinal me encheu de esperança...pelo que ainda tenho a fazer.

Senti que de facto estou na cidade mais cara do mundo, onde uma alface custa 7 euros, 4 iogurtes, 12,50 euros e uma garrafa de água pequena, 10 euros.
Mas eu por ali, pouco gasto e vou fintar esta crise, com uma grande pinta.

Entre tantas coisas que os meus olhos captaram e sentiram...uma me fica...que a quantidade de experiencias,realidades, percursos de vida e diferentes culturas que tenho adquirido, um dia vão dar um livro.
Mas as saudades...da vida simples e de entrega...essas nunca se calam e esse será um dia, o meu fim.

E não me adianta continuar a falar desta dor no peito, discutir se a dor é física ou psicológica, que eu sei bem que a sinto, que me dói como há muito tempo não sentia dor nenhuma e não me interessa mais nada. Não adianta de nada dizer que ainda não acredito que vivi um amor impossível, ou falar da vontade de acreditar que talvez ele não seja impossível, do medo de que afinal seja mesmo, do horror que me causa a perspectiva de nunca mais poder voltar, das borboletas no estômago, do desejo permanente de regressar ao fim do mundo...Lichinga, Niassa, Moçambique.








terça-feira, 5 de março de 2013

Angola






Depois de muitos dias de espera, pelo visto de entrada em Angola, depois de passar 1 mês que deixei Londres...eis que tenho, mais que decidido o que quero.
Nada como o tempo.
Aqui vou eu,pronta a enfrentar novos desafios.Por um futuro melhor.
Pode parecer fácil, isto de nos deslocarmos a toda a hora, para outras realidades.Eu gosto,apaixona-me,mas ninguém disse que era simples.Implica uma boa dose de coragem e leveza.O nunca estar cá e lá  faz-nos sentir que vamos perdendo certas coisas, ao passo que ganhamos outras.Mas eu tenho uns amigos de ouro,que me fazem sentir que nunca estive longe...e que estamos juntos todos os dias.
Custa-me sempre, deixar os que amo...o meu cantinho,aqui plantado á beira mar...este sol de inverno, estes sabores.
Mas a vida segue...e com ela a mudança, mudar faz bem.
Na cabeça fica a missão e os dias de entrega...que não muito longe estão, de voltar a acontecer.
Projetos e ideias não me faltam...estou a fervilhar de sonhos.E estou no caminho certo para o conseguir.
Agora fecho os olhos, passo a noite a voar pelos céus e amanhã, é um novo dia.E a mesma Rita.
Até breve.